29 de outubro de 2010

And let it shine...







Eu poderia escrever algumas histórias bem depressivas e cheias de tristeza hoje aqui. Porém, de última hora, eu resolvi que não. De nada adianta ficarmos remoendo tudo o que passamos de ruim e traumatizante. A vida tem pressa e nos cobra isso a todo momento. Durante esse ano passei por momentos de grande sofrimento, dor, dor mesmo, física e psicológica. Passei por grandes maus bocados. Senti medo, pensei que não aguentaria mais, cheguei no limite das minhas forças. O que eu acho até errado de falar, pois limite é uma coisa que eu aprendi que não existe. Não existe limite para quem realmente quer alguma coisa, para quem se esforça, para quem luta. E é por isso que eu não conheço limite. Lutei contra a dor, alcei voo, fiz morada junto ao meu infinito particular.



Acordei pensando nisso. Vi uma pessoa que eu conheço passar por mim na rua e fiquei pensando como uma pessoa consegue chegar ao fundo do poço e não conseguir forças para sair de lá. Essa pessoa usa drogas já há algum tempo e agora está envolvido com drogas mais pesadas. Já tentou tratamentos, internações e até mesmo uma boa dose de amor e família. Nada resolveu. Nada fez acender nele a vontade de fazer melhor, de sair em busca de novos caminhos e novos rumos. E essas coisas, acredite, só dependem da gente.


Somos inteiramente responsáveis pelo que nos tornamos. Nascemos, crescemos e passamos a vida inteira procurando por algo ou alguém que justifique a nossa existência, o modo como vivemos, a forma como encaramos nossos problemas. Essa é uma busca inútil, uma perda de tempo. Somos o que somos e isso é construído todos os dias pelas nossas próprias mãos. Não podemos colocar essa responsabilidade nas mãos de ninguém. Essa faísca de vida deve ser acesa por nós mesmos. Devemos fazer brilhar toda a luz que existe dentro de nós, cuidando sempre para que ela não se apague. Somos fogos de artifícios, somos luz, somos tudo aquilo que queremos ser. E nada nem ninguém pode nos tirar essa dádiva.


Hoje eu resolvi assistir ao clipe Firework, da Katy Perry. Geralmente eu não tenho um pingo de paciência para as coisas que ela faz, mas resolvi assistir  e, para minha surpresa, me encantei com a delicadeza desse vídeo. A inspiração vem exatamente de tudo o que eu pensei hoje o dia todo. Só nós podemos acender a faísca que existe dentro da gente. Temos todos uma luz incrivelmente linda e cheia de cores dentro do peito de cada um de nós. Por que não liberamos essa luz? Por que sufocamos cada vez mais nossos sentimentos, beleza e vontade de viver? Por que nos maltratamos tanto?


Quando deixamos de lutar pelo que queremos, estamos apagando a nossa luz interior. Estamos fazendo com que ela morra da forma mais cruel que existe: sem a chance de se mostrar para o mundo. Não podemos viver pensando em doenças, tristezas, mortes e coisas que não nos acrescentam nada de bom. Devemos ter a alegria de ousar um sorriso onde tudo parece perdido e triste. Devemos ser suficientemente bons o bastante para sustentar esse sorriso diante de tantas adversidades. Devemos fazer o nosso melhor. Tem vida explodindo detro de você. Deixe o mundo ver o seu brilho.



Assista ao clipe. É uma lição e tanto. 




Dois







Como dois estranhos,
Cada um na sua estrada,
Nos deparamos, numa esquina, num lugar comum.
E aí? Quais são seus planos?
Eu até que tenho vários.
Se me acompanhar, no caminho eu possso te contar.
E mesmo assim, queria te perguntar,
Se você tem aí contigo alguma coisa pra me dar,
Se tem espaço de sobra no seu coração.
Quer levar minha bagagem ou não?
E pelo visto, vou te inserir na minha paisagem
E você vai me ensinar as suas verdades
E se pensar, a gente já queria tudo isso desde o inicio.
De dia, vou me mostrar de longe.
De noite, você verá de perto.
O certo e o incerto, a gente vai saber.
E mesmo assim,
Queria te contar que eu talvez tenha aqui comigo,
Eu tenho alguma coisa pra te dar.
Tem espaço de sobra no meu coração.
Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão.

Composição: Tiê e Thiago Pethit



 
Um beijo pro meu amor, que me apresentou a Tiê e que ontem me mandou essa música linda!






25 de outubro de 2010

Não é proibido







Jujuba, bananada, pipoca,
cocada, queijadinha, sorvete,
chiclete, sundae de chocolate,
Uh!


Venha pra cá, venha comigo!
A hora é pra já, não é proibido.
Vou te contar: tá divertido,
Pode chegar!





Não é proibido, da Marisa Monte.






18 de outubro de 2010

Sobre superpoderes...








Todo mundo acha que eu sou o Super-Homem. Só pode ser. Todo mundo quer conversar comigo e todo mundo que eu converse com alguém e ouça e resolva alguma situação. É estranho pensar nisso, sabe? É estranho justamente pelo fato de tanta gente falar (mal) de mim por aí. Isso me aborrece bastante, mas eu não dou a mínima pra falar a verdade. Tem muita gente que fala bem, pra balancear a situação. Acho que o saldo é sempre posítivo no final das contas, pelo menos é o que eu espero.


O fato é que eu sou um ser humano, cheio de erros, defeitos, qualidades, acertos e uma quantidade satisfatória de ironia e sarcasmo. Isso me faz levar a vida um pouco mais leve, o que não diminui o fardo. As pessoas, ou amigos, como são conhecidos, só querem saber de resolver os seus próprios problemas e receber ajuda de quem quer que seja. O meu problema é sempre menor que o dos outros. Hoje cedo tentei falar sobre uma coisa que estava me aborrecendo com um amigo pelo MSN. Falei, falei, falei. Ou melhor, digitei, digitei, digitei. No fim das contas, depois de expor todo o meu coração, esse meu amigo disse um às-vezes-isso-acontece e continuou a falar e falar e falar da sua própria vida e daquilo que considera como "problema". 


Ok, eu não estou aqui para desmerecer o problema de ninguém. Muito menos para elevar o meu ao posto de super-problema. O fato é que cada um sabe onde aperta o sapato. E o meu estava apertado. Custava me ouvir e me dar atenção e esquecer um pouco dos tantos problemas que povoam sua vida? Eu acho que não. Até porque o Super-Homem aqui está sempre disposto a ouvir e aconselhar e perder horas a fio ouvindo as lamúrias de todo mundo. Poxa, eu não tenho nervos de aço e um peitoral tão bem definido quanto o do Super-Homem. Me enxerguem como ser humano. Um ser humano forte, eu admito. Diferente de tudo o que você já viu e com a experiência de uma pessoa que presta atenção aos detalhes que vão passando pela vida da gente. Os detalhes fazem a diferença, acredite.


Não quero que ninguém se sinta ofendido com esse texto. Só estou escrevendo porque talvez isso sirva como o desabafo que não consigo ter com as outras pessoas ocupadas que vivem ao meu redor. O objetivo é só conversar com alguém e mostrar que eu também preciso de cuidado, atenção, carinho e um pouquinho de mimo de vez em quando. Não quero rosas e nem tapete vermelho. Não quero viajar para um lugar lindo e viver uma vida de princesa. Até porque, com exceção da Princesa Fiona, eu acho todas as outras um saco. Quero poder contar com a compreensão de vocês para o que vou dizer agora: eu não sou o Super-Homem. Posso ser o Super-Diego, mas não o homem de aço. Eu choro (muito), dou gargalhadas (até com situações que não cabem uma boa risada), canto (muito mal), danço (não danço, balanço a cabeça e mexo o corpo), rebolo (pra manter tudo em ordem, mas de fato não sou a Carla Perez e muito menos a Valeska Popozuda). Eu vivo. E observo. E o que eu puder, transmito aos outros. Principalmente as coisas que podem fazer mal aos outros. Falo, sou incompreendido, algumas vezes me dão ouvidos, outras vezes nem tanto, mas no fim tudo se ajeita.


O Super-Homem tem a Kryptonita. Eu tenho várias. Tenho várias pedras que me enfraquecem. Não vou contar todas, porque eu não sou bobo. Porém eu tenho uma que me incomoda bastante: não gosto de pedir atenção, carinho ou qualquer coisa relacionada a sentimentos e emoções. Sinta, por favor, sinta. É tão difícil assim? É tão difícil perceber as coisas? Eu preciso sempre falar o que está acontecendo? Isso me dói. Parece que eu estou implorando por uma coisa que eu dou aos montes para você. Parece que eu estou pedindo um item extra desse pacote-amor. Se você não quer, ótimo. É só dizer e eu entendo. Não sou uma criança mimada. Aliás, nunca fui. Mas depois que você disser que não quer, não volte atrás. Fica parecendo que está me fazendo um favor. E essas coisas de amor não devem ser um favor. Elas não devem nem ser faladas. Não acho certo falar de amor, amor é única e exclusivamente um sentimento e, como tal, deve ser sentido antes de qualquer outra coisa. O amor deve ser sentido, percebido.


Me compreenda, eu só quero amar e ser amado. Quero conversar com meus amigos e ser ouvido. Quero não ter que pedir sentimento. E detesto falar sobre isso.





15 de outubro de 2010

Yeah!





A vida tá acontecendo agora e você aí com cara de tacho. Seu caderno está em branco e você tem meia dúzia de fotos para colocar no seu mural. O que fazer? Viver. Você precisa surtar e se encontrar e se render ao inesperado que bate à sua porta todos os dias de manhã e entender que a vida é feita desses pequenos detalhes que, na maioria das vezes, não damos a mínima importância. Precisamos parar de olhar para o nosso umbigo e dar um grito de liberdade bem no meio da plateia e deixar de ser espectador da nossa própria existência. Soltar as amarras que nos prendem e alçar voo, seduzindo os céus e flertando com as nuvens. Viver é ter vento no cabelo e despentear e enlouquecer com toda essa liberdade aguda e latente. Sair em busca de vida é o que precisamos, se é que realmente queremos fazer isso todo o tempo. Mas devemos. Devemos ousar, experimentar e não dar bola para o que os outros pensam. Sua alma gêmea é aquela que enfrenta todos os desafios ao seu lado, sem reclamar de frio ou calor, se está bem ou mal, se tem dinheiro ou não. Sua alma gêmea está te esperando em toda parte. Encontre-a e seja feliz. Seja feliz, pois isso depende de você e da outra pessoa. Felicidade se constrói. É uma dádiva da luta diária, com uma pitada de sorte e uma grande dose da bênção de Deus. Você já conseguiu gritar para o mundo o que você está sentindo? Então faça isso. Pegue toda a sua coragem, misture com um pouco de falta de vergonha na cara, beba duas largas doses de insanidade e grite o que você estiver sentindo. Se te aperta o peito, grita. Se você ama de verdade, grita. Se você precisa de ajuda, grita. Faz acontecer. Nada de ficar se preocupando com a verdade dos outros ou com a verdade do universo. A vida é agora.





Ao som da banda Train, a sexta-feira fica mais encantadora.





11 de outubro de 2010

Minhas cartas ao Pequeno Príncipe: sobre raposas




Terra, 11 de outubro de 2010.



Amiguinho,
faz muito tempo que não nos falamos, né? As coisas por aqui andam bem corridas e parece que você pode me dizer o mesmo daí. Como vão as modas aí no B612Planet? Aqui elas andam meio estranhas. Muito baobá e pouca flor, se é que você sacou o meu simbolismo. Você sempre entende os meus simbolismos. Até porque você é mestre nisso.


Quem sempre pergunta de você é aquela piriguete que você pegou naquele barzinho chulé numa entediada noite de sábado. Corre boatos que, desde então, a puta se regenerou, mudou de vida e está a sua espera. Outro dia ela me perguntou se eu tinha alguma novidade sobre a sua volta, mas eu nem dei muita confiança. Não fui com a cara dela no início e continuo com a mesma opinião. Enfim, o motivo pelo qual estou te escrevendo é outro.


Lembra daquela raposa que você tanto adora e que ficava te enchendo com aqueles papos "cativantes"? Pois bem, passei por ela esses dias. Foi outra que  quando me reconheceu me parou e ficou me alugando por um bom tempo. Queria saber de você, como estava a sua vida, se você já estava criando galinhas no seu planeta, se já tinha enriquecido o bastante para poder largar tudo e fazer um tour pela Europa com ela e mais um punhado de baboseiras que eu nem me dei ao trabalho de ouvir. Ela continua a mesma falsa e dissimulada de sempre. Só você que não percebe isso. Você diz que ela te ensinou um monte de coisas boas e blá blá blá. Pelo que você me contou e pelo que pude perceber, ela é uma grande chantagista, isso sim!


Príncipe, você é meu amigo de infância e sabe que eu não minto para você.  É por isso que estou te escrevendo: para alertá-lo. Vê se não fica dando corda pra essa raposa. Ela se faz de boazinha, de fofa e meiga, mas é uma cobra venenosa. E de cobra nós já estamos cheios, né? Quando eu a vi na rua ela nem me deu bola, me olhou por cima dos ombros e bateu a cauda em sinal de despeito. Mas rapidinho ela se lembrou da minha cara de tô-nem-aí-pra-ela e logo veio puxar assunto. Lembra que eu te contei que quando eu a conheci ela ficou toda insinuante, me dizendo que não podia conversar comigo porque eu não a tinha cativado e que isso leva tempo e mais um monte de coisas melosas? Então, ela não mudou em nada. Passou a mão no meu cabelo e disse que se lembraria do trigo, igualzinho fez com você. E eu, irônico, logo tratei de corrigi-la mostrando que não sou loiro e que a cor do meu cabelo é castanho-claro, ou seja, não lembra trigo. Lembra que ela te disse: "Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo"? Pois então, como é que os meus cabelos podem fazê-la se lembrar do trigo? O trigo não faz aquela peçonhenta se lembrar dos seus cabelos? Como assim, raposa?


Respondi que, se nós dois nos cativássemos, um teria a necessidade do outro e ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi aí que eu percebi que ela tava era atrás de marido. A bobinha pensou que tivesse chance comigo. Ela viu minha calça de marca que eu comprei em doze prestações e logo ficou ouriçada querendo me seduzir com seu lindo casaco de pele. E eu resolvi dar bola pra ver até onde ela poderia chegar. Para sua surpresa, meu caro amigo Príncipe, a danada marcou um encontro comigo às quatro da tarde e disse pra eu não me atrasar, pois ela ficaria triste e não seria feliz se eu me atrasasse. Pensei que fosse apenas uma média para me deixar todo derretido, mas não era.


Me atrasei um pouco e quando cheguei ela já estava louca e descabelada no meio do trigal. Fiquei bege com tamanha falta do que fazer. "Você já viu o trânsito desse lugar, gata?", perguntei a ela. Aí ela disse que "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…" Tá, e eu fingi que acreditei nesse papo furado, né! Como assim ela precisa preparar o coração? Quem ama pode chegar a hora que quiser. Corações e portas estarão sempre ansiosos pela chegada do ser amado. O importante é que ele chegue bem. Se não chegar, que pelo menos avise. Mas não, a louca da sua amiga raposa, devia era estar querendo ganhar tempo para despachar o Ricardão. Comigo não, violão! 


Aí ela me disse que era para eu dar uma volta e esfriar a cabeça. Disse que eu estava estressado e que precisava relaxar, ver as rosas e perceber como as coisas cativadas estão intimamente ligadas à felicidade. Dei uma volta para não arranjar confusão com aquela cobra e voltei. Quando voltei ela já estava toda faceira, retocou o batom e tomou um banho de perfume vagabundo. Fui logo me despedindo, porque eu não estava com paciência para aquele tipo de conversa. Foi quando ela me disse adeus e completou: "Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Sentiu a pressão? Percebeu o tom de chantagem?


Afirmando isso ela jogava na minha cara tudo o que fez por mim (se é que ela realmente fez alguma coisa). Até o tempo que perdeu comigo ela me cobra. Ela deseja afeto, carinho e cuidado em troca do precioso tempo que ela nos dedica. Abre o olho, Príncipe! Essa vadia estava era querendo nos enganar. Você está bem longe, sorte a sua. E eu quero é distância dessa cobra que exige compromissos com hora marcada, ritos e contratos de troca afetiva. Contratos que beneficiam ela, claro. Ela tem a audácia de dizer que será feliz só pelo fato de saber que você virá. Faça-me o favor, né amiguinho? Onde é que já se viu condicionar a sua felicidade ao outro, ao que ele pode fazer por você, ao que ele representa, ao fato de ele vir ou não ficar com você?


Veja que coisa mais infantil: atrelar a sua vida à vida do outro. Se tu és único no mundo, como pode ela querer que você seja responsável por ela? Ela também não é única? Viu só como ela cai em contradição o tempo todo, Príncipe? As crianças, como você, não têm ainda um universo, uma vida, um baú cheio de riquezas que você amealhou durante toda a vida. Elas são manipuláveis e facilmente levadas. E é por isso que estou te escrevendo: te quero bem. Não deixa essa peçonhenta te manipular. Quando você crescer, conseguirá enxergar a beleza dos campos de trigo sem se lembrar de ninguém. O essencial é invisível aos olhos e a raposa, como uma criança mimada, quer que aqueles que a amam estejam com ela nas horas e locais que ela determinar, achando que eles são responsáveis pela felicidade dela e que você deve a ela o fato de tê-la cativado. Já pensou como essa raposa ficaria quando você precisasse tirar umas férias para ir conhecer outros lugares? Já pensou com ela ficaria revoltada se você fizesse amizade com alguma outra raposa? Não quero nem imaginar.


Enfim, desde esse dia não falo mais com ela. E acho que você deveria dar um basta nessa pseudo-amizade de vocês. Ela não é flor que se cheire.


Volte quando puder e sem avisar. Haverá sempre pão-de-queijo e um belo sorriso a sua espera.

Fica bem, viu.


Diego Muzitano


1 de outubro de 2010

Para quem me odeia,





Eu te amo. E não seria metade do que sou sem você, juro. É seu ódio profundo que me dá forças para continuar em frente, exatamente da minha maneira, com a mesma visão ácida que faz de mim o seu ponto mais que oposto. Com a mesma falta de vergonha na cara que me faz enxergar o mundo de uma forma mais humana e cagar para o que você pensa sobre as minhas atitudes. Enquanto você dá os seus chiliques, eu sigo sem nem olhar para trás, porque né? Eu estou muito ocupado sobrevivendo a essa selva e você deveria estar fazendo mesmo. Mas não. Você se dá ao luxo de deixar de lavar essa sua cara porca para poder sair correndo só para me ver passar e poder falar mal da minha roupa ou da forma despenteada que eu resolvi sair hoje. E é por isso que eu te amo.


Prometa que nunca vai deixar de me odiar ou não sei se a vida continuaria tendo sentido para mim. Eu vagaria pelas ruas inseguro, sem saber o que fiz de tão errado. Se alguém como você não me odeia, é porque, no mínimo, não estou me expressando direito, não estou sendo ruim o suficiente e o pior para você: estou cada vez mais ocupado com o meu marido, família e amigos. Isso te derruba, né puta? Isso te faz pensar cada vez mais em como eu conseguir me tornar a pessoa que eu sou hoje. Com certeza você deve se perguntar todos os dias: "como aquela criança gordinha, que eu sempre tentei destruir, que eu sempre tentei deixar a auto-estima lá embaixo, que eu sempre ofendi e xinguei e fiz chacota, como essa criança conseguiu se tornar essa pessoa tão assim?". Ai que orgulho de mim ocupar um espaço tão grande na sua vida.


Sei que você vive falando de mim por aí sempre que tem oportunidade, (e quando não a tem, você dá um jeito de criar oportunidade) e esse tipo de propaganda boca a boca não tem preço. Ainda mais quando é enfática como a sua - todos ficam interessados em conhecer uma pessoa que é assim, tão o oposto de você. Sério, me sinto a Lady Gaga, a Madonna, a Cher, sei lá. Me sinto uma D.I.V.A. e fico querendo sair por aí com um salto do Alexander McQueen, mas isso só faria você se sentir pior. Porque você não tem capacidade de usar um salto, você não sabe se manter no topo. Você tem medo de altura? Deve ser por isso que você vive com esse pé no chão. Você está me ouvindo? Eu posso voar, honey! E não importo em sair na rua com o meu pijama bege e minhas Havaianas azuis. Eu não vivo nesse mundinho do qual você faz parte. Eu não sigo os mesmo padrões que você. E deve ser isso que faz você me odiar tanto assim, né? T.H.A.N.K.Y.O.U. so much!


Olha, a minha gratidão não tem limites, pois sei que você poderia muito bem estar fazendo outras coisas em vez de me odiar - cuidando da sua própria vida, dedicando-se mais ao seu trabalho, estudando um pouco. Mas não: você prefere gastar seu precioso tempo me detestando. Não sei nem se sou merecedor de tamanha consideração. O que sei é que você continua nessa mesma vidinha medíocre da qual você não consegue sair. Parece até uma porca atolada num monte de merda. Existem vários cursinhos gratuitos, viu. Existe gente disposta a ensinar quadrúpedes feito você. Não se acanhe. O mobral sempre exisitiu e sempre irá existir, assim como aqueles que ficam esperando a banda passar. Pois bem, nessa banda eu sei tocar todos os instrumentos.


Bom, como você deve ter percebido, esta é uma carta de amor. E, já que toda boa carta de amor termina cheia de promessas, eis as minhas:

Prometo nunca te decepcionar fazendo algo de que você goste. Ao contrário, estou caprichando para realizar coisas que deverão te deixar ainda mais nervoso comigo.
 
Prometo não mudar, principalmente nos detalhes que você mais detesta. Sem esquecer de sempre tentar descobrir novos jeitos de te deixar irritado. Isso é um prazer, não se preocupe.
 
Prometo jamais te responder à altura quando você for, eventualmente, grosseiro comigo, ao verbalizar tão imenso ódio. Pois sei que isso te faria fi car feliz com uma atitude minha, sendo uma ameaça para o sentimento tão puro que você me dedica. Eu não sou igual a você e não vou agir da forma irracional que você age. Eu sei calar diante de gente insana e barata.
 
Prometo, por último, que, se algum dia, numa dessas voltas que a vida dá, você deixar de me odiar sem motivo, mesmo assim continuarei te amando. Porque eu não sou daqueles que se esquece de quem contribuiu para seu sucesso. Pelo contrário, quando você já não mais me odiar, eu te mando um convite de alguma coisa importante que eu estive fazendo enquanto você cuidava da vida dos outros e que eu resolvi expor para as outras pessoas. Convite free, ok?!


Pena que você não esteja me vendo neste momento, inclusive, pois veria o meu sincero sorrisinho agradecido - e me odiaria ainda mais. Trata-se daquele sorrisinho, sabe? Aquele mesmo sorrisinho que eu dou quando passo por você na rua. Ahhh se você soubesse tudo o que eu penso sobre você...


Com amor, do seu eterno.





Prezada Mulherzinha,









Se existe alguém que pode falar o que vou falar para você, sou eu. Então, por favor, tenha a humildade de admitir que sei o que estou falando. Pois o que eu te direi é duro, mas poderá te fazer um bem enorme.


Chega. Chega de se comportar assim. Como se estivesse lutando pelo posto de rainha da bateria. De Miss Maravilha do Mundo. Basta de ataques, dessa competitividade suburbana eu sou a melhor, eu sou a mais alta, eu sou a mais gostosa do pedaço. Ninguém tá ligando a mínima se você corre 10 quilômetros ou se aplicou Botox nessa sua testa sem expressão. Ou se você é assim porque ainda não passa de uma menininha que quer ser mais perfeita do que a mãe, conquistar o amor do pai e ser a primeira da classe. Esse teu afã psicopata de vencer todas as paradas só te deixa ridícula. E me faz querer usar um termo que odeio: coisa de mulherzinha. Mulherzinha é que tem essa mania de estar sempre desconfiada das amigas, porque todas teriam inveja do seu corpão e do seu cabelão estilo falso-loiro-natural-cinco-tons. Lamento informar, querida, que ninguém sente inveja de você. Por isso, chega de dizer por aí que, para não atrair olho grande, é bom ficar de bico fechado sobre a tal possível promoção que você terá no trabalho. Relaxa, ninguém está a fim de ser você. Tente, portanto, ser você com mais leveza. E lembre-se: esse negócio de dizer que não se pode confiar em mulheres só comprova que você é uma pessoa maliciosa. Sendo que isso está longe de ser porque você é fêmea.


Quando vejo você tagarelando sobre seus feitos sexuais, sinto-me num filme ruim sobre ginasianas americanas. Todas fanhas e excitadas. Chega, tá? De azucrinar os outros com essa sua boca-genital lambuzada de gloss, cuspindo baixos-clichês, simulando uma modernidade que você não tem. Nunca mais caia no ridículo de fazer "sexo casual" com nenhum tipo de homem, mais velho ou mais novo, casado ou solteiro, porque todo mundo já sabe que você finge tudo. Que goza, que não se sente fácil, que não liga quando os caras não telefonam no dia seguinte. Seja honesta uma vez na vida: confesse. Que você não é nada tão wild quanto se vende. Que não sabe falar tão bem inglês assim. Que fez escova progressiva. Que tem dermatite. E enfim você terá alguma paz, pois se reconhece humana, e não a barbie boba que você procura ser. Acredite: idiotice só te faz charmosa para os cafajestes. Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos.


É triste, amiga Mulherzinha, mas você terá que abrir mão da máscara de rímel que cobre a sua verdade.



O texto é da Fernanda Young, mas eu queria que fosse meu. Contei!