28 de junho de 2011












"É sempre assim que acontece - quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer."
  
Não, a frase não é minha.
É daquela que melhor fala de mim - Clarice Lispector.





27 de junho de 2011

Meu amor novo de novo






A vida sempre segue um rumo meio desconfiado e intrigante. Encontros, reencontros, despedidas e o meio termo entre todas essas passagens. Tudo isso faz parte dessa nossa aventura na terra. Muitas vezes fica tudo numa pegada meio dark, meio sombria demais pra suportar, mas isso é a vida e nós temos que aprender a lidar com essa louca dança. Fica comigo? Assim, bem pertinho... vem cá, se aconchegue nesse meu abraço que nunca conseguiu esquecer esse cheirinho de criança que sai de dentro de você. Vem e traz consigo aquele meu velho sorriso. Aquele que você levou quando resolveu abandonar a cama quentinha que eu fiz pra você no meu coração. Traz de volta pra mim aquela minha alegria de achar tudo muito lindo e colorido. Faça com que eu sinta você verdadeiramente pulsante dentro de minh'alma. Eu só preciso disso. Eu só preciso que você aceite isso que está dentro de você.



Essa confusão de sentimentos, esses detalhes esquecidos, aquela lembrança boa daquele beijo ao entardecer de um lindo dia, onde nós dois estivemos juntos por uma eternidade num único segundo. É de tudo isso que eu quero me lembrar e é só isso que eu queria ter de volta. Não sei se é possível reconstruir um passado. Todos tentam. Em vão, mas tentam. O passado é somente o passado. Depois disso tudo que vivemos, fica claro que precisamos nos reinventar. "Oi, tudo bem com esse novo você? Ele vem sempre aqui? Gostei dessa camisa nova, esse jeans rasgado e esse cabelo meio bagunçado! Tudo bem se eu me sentar do seu lado?" É um novo fôlego para aquele velho amor de ainda e sempre. Tudo se quer. Tudo se volta para você. Esses holofotes iluminam muito mais do que essas marcas de expressão que eu adquiri com a sua ausência. Eles mostram um mapa da minha saudade quase que numa super visão de raio-X do Superman. Esse mapa só me leva a você.



Que tipo de amor é esse que eu trago aqui dentro? Quando é que vou poder te mostrar que eu te quero? Esse querer disfarçado de confusão é o que mais me mata. Isso realmente acaba comigo. Você não vê que eu fico em chamas do seu lado? Você não sente isso. Ah, eu sei que você sente. Você sente e percebe. Mas o que eu posso fazer se você não dá o braço a torcer? Que turrão você é e quanto amor eu venho arrastando pelo caminho, se arrastando, me arrastando. Tudo se confunde nisso tudo. Eu só queria que você pudesse olhar para mim e reconhecer aquele brilho no olhar de quando eu olho para você. Faz isso por mim? Me mostra que você não tem medo de tentar mais uma vez? Mais uma vez comigo? É só isso que me importa: que você me queira tanto quanto eu te quero. Eu não preciso parar para cuidar de mim. Minha alma é muito mais cheirosa e bem cuidada quando estou junto de você. 



O nosso problema é esse afastamento, essa distância que nos corta, nos machuca, que reabre as cicatrizes de outros tempos do nosso amor. A gente se corta, se machuca, se reinventa e fica louco pra ter de novo um ao outro. Que amor bonito, que coisa boa. Somos reincidentes nesse crime, fomos condenados a morrer de amor, um pelo outro, por toda a vida, em todas as vidas. Essa inconstância que nos condena a esse abismo nada mais é do que a imensa vontade de fazer (e de te falar) que eu não suporto viver sem saber que você está ali por mim, para mim e, ao mesmo tempo, para você. Sim, eu aceito ter todos esses vocês que vivem aí dentro. Sim, eu quero me esforçar para agradar a todos esses que vivem aí dentro. Faça isso por mim também. Me veja com olhos mais que humanos, me veja como seu melhor amor. Chega bem pertinho, me dá sua mão, sente esse cheirinho bom de amor renovado. Quer dar uma volta, conversar, ser meu amor novo de novo? Então vai lá, se cuida, se perfuma e volta pra mim, porque eu só consigo caminhar se for com você ao meu lado.






"Acredito nos olhos de quem está apenas observando, 
aprendendo, sem julgamento. 
Acredito que existe um lugar para mim, 
assim como existe lugar para todo mundo. 
Porque existe lugar para todo mundo. 
É só procurar... Eu acredito. Acredito no tempo. 
O tempo é nosso amigo, nosso aliado, 
não o inimigo que traz as rugas e a morte. 
O tempo é que mostra o que realmente valeu a pena, 
o tempo nos ensina a esperar, 
o tempo apaga o efêmero e acaba com a dúvida."
Caio F.








22 de junho de 2011

Gaypride


 








Quando o mundo quiser sufocar o seu verdadeiro "eu". 
Quando tudo parecer não fazer sentido algum.
Quando tudo não for sentimento.
Seja você.



Quando tudo não te sorrir o riso mais legal.
Quando você quiser gritar bem alto.
Quando você desanimar.
Seja você.



Quando você parecer inadequado demais.
Quando as regras forem obscuras.
Quando você desistir.
Seja você.





Tenho orgulho de ser gay porque querem me obrigar de todos os lados, de todas as formas, todos os dias e minutos e segundos a ter vergonha de ser quem eu sou. E isso não acontecerá.






18 de junho de 2011

Avessos











“Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, 
eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando,
eu vou e continuo indo, assim, desse jeito. 
Sem virar páginas, sem colocar pontos e vou dando muito de mim, 
e aceitando o pouquinho que os outros têm pra me dar.” 
Caio Fernando Abreu



Ah meus bons conto de fadas! Plagiando aquela velha senhora travestchy dazoropa tento escapar dessas filosofias tortas de fundo de padaria da esquina. Tem gente que ainda acredita (e muito) que a vida resolver-se-á quando um príncipe lindo e reluzente der um chega pra lá naquele dragão baforento. Que coisa bem estranha essa nossa mania de fazer da vida um eterno conto de fadas, né? Será que eu acordei meio rígido demais hoje? Acho que não. Tem muitos dias em que eu me pergunto por que essas pessoas insistem em acreditar em um conto de fadas? Por que essas pessoas acreditam que um dia eu vou ser aquilo que elas esperam de mim? Enfim. "Como assim?", me pergunto perplexo diante dessas pessoas que querem cuidar da minha vida, mas não querem pagar a conta da minha amada loja de queijos e vinhos.


Que tipo de gente é essa que, em pleno século XXI, acredita que vai viver dentro de um padrão completamente arcaico e ultrapassado. Oh, please, keep away from me! Me deixa de fora desse Clube do Bolinha, porque eu já passei da idade e do peso pra brincar de Power Rangers com vocês, ok?! Acho que o único objetivo que pessoas desse tipo têm na vida é atazanar a existência das outras que, se não fossem os parâmetros pré-estabelecidos, seria extremamente felizes e completas. Vivemos numa democracia falsa, onde tudo é proibido para quem é diferente da receita tradicional do bolo da vovó. Estamos fadados a decepções aristocráticas o tempo todo e fazemos disso um legado de dor e constrangimento. A pressão é tamanha que eu sinto que vou explodir algumas vezes. Será que essas pessoas, com essas normas e leis falidas e preconceituosas, fazem muita gente de bem sofrer como um cão? Será que é esse o propósito desse mundo? É fazer sofrer?


Ninguém percebe o tamanho do estrago e, muitas vezes, de posse de uma hipocrisia deslavada, diz que sabe exatamente como você se sente. Me desculpem, caros leitores, mas sabem o cacete! Essas pessoas não sabem nem metade do que se passa na vida, na cabeça, no coração, na alma dessas pessoas que são extremamente maltratadas e judiadas a vida toda pelo simples fato de ser diferente. Qual o problema desse povo que julga como se fosse Deus? Deus não é amor? Que suposições falsas são essas? O que essa gente quer de mim? Que eu seja infeliz? Sorry, honey, mas eu vou ser feliz sim! Eu posso, mereço e quero ser feliz! E essa sim é uma decisão que podemos e devemos tomar todos os dias quando amanhecemos. O amanhecer em mim não pode ser trágico sendo eu tão saudável e cheio de força de vida. É vida pulsando por toda a parte. É vida saltitando por eu poder ser exatamente aquilo que eu preciso ser no mundo - uma mudança viva e constante, um ser completamente ativo nesse panorama.


Eles chegam, te devoram com suas condições pseudonormativas, fazem de você uma ameba, promovem uma lavagem cerebral e, aí sim, soltam você nessa selva ridícula de gente estranha que só pensa em se promover e se mostrar mais poderoso que eles próprios. Querem fazer de você uma máquina programada, um poderoso chefão que não manda nem no próprio nariz. Não, esse não sou eu. Esse não serei eu. O verdadeiro eu que habita em mim precisa de muito mais para continuar vivo. Ele precisa de você, de você e de você também. Esse meu eu é sedento de saber, de conhecer, de experimentar. Ele precisa de muito mais que seu arroz-com-feijão pra ser feliz. Essa lavagem cerebral é completamente reversível, basta você querer. Porque é sempre assim - a vida chega, te vira do avesso e aí você acaba descobrindo que o avesso é o seu lado certo.





17 de junho de 2011

Quer conversar?











Quer falar sobre o assunto? Quer ajuda? Pode falar. Vou te ouvir com a maior atenção do mundo. Essa nossa vida é tão corrida, né? Talvez esteja realmente faltando mais diálogo entre você e eu. Somos obrigados a capitalizar nossa vida de uma forma tão descontroladamente insana que nos esquecemos da nossa engrenagem mãe - a conversa, a intimidade, o desabafo. Fala comigo o que te aflige, o que te faz sentir aquele frio na barriga, aquilo que te faz perder o sono. Me conta sem medo, todo mundo tem medo, mas precisamos falar, gritar, berrar. Conversar faz bem, alivia a alma, seca as lágrimas do coração, faz cantar os passarinhos dentro da nossa cabeça.


Tem momentos que a gente realmente só precisa de um bom par de ouvidos, né? As coisas começam a desandar, você fica preocupado, quer falar, ninguém pra ouvir. Os que ouvem interpretam você como se fosse um monstro. É estranho, diferente e anormal essa aversão que o ser humano tem pelo seu semelhante. Não me venha com hipocrisia de fundo de butequim, baby! Todos nós, em algum momento da vida, sentimos algum tipo de sentimento não-tão-bom-assim por outra pessoa. Não existe alguém 100% gente boa. Todo mundo tem seus prós e contras - isso é a vida e é importante e é real. O que a gente não pode é esmorecer, deixar a peteca cair, o pneu murchar, a vida falar por você. Quem tem voz aqui é você. Fale. Expresse-se. Transforme sentimento em palavra. Isso é importante e não te deixa adoecer por dentro.


A vida vem me ensinando a falar cada vez mais aquilo que não me faz bem. O resultado é sempre bom, por mais que você perca ou se perca no caminho. O essencial é que você estará realmente ali quando expressar seu sentimento. Será sua essência chegando na frente e dizendo: "ei, isso aqui não tá certo, não! Vamos falar sobre isso e ver o que está fora do lugar". Quando a gente passa por situações difíceis fica complicado quebrar a carapaça e mostrar o que está sofrendo lá dentro, porque fazer isso não é tão simples quanto abrir uma porta. A alma humana é um cadeado que perdeu a chave. Estamos sempre em busca de algo mais, algo estranho, alguém que nos diga o que fazer. Talvez isso diminua nossa culpa, talvez isso torne tudo mais ameno, talvez você não precise se abrir para o mundo. Talvez, talvez, talvez. Acaba logo com esse talvez e mete a mão na massa. É complicadíssimo, eu sei, mas essa chave deve estar em algum lugar. 


Sabe... tem coisa que a gente deixa passar e vira uma bola de neve tão grande que ninguém consegue controlar. Eu tenho medos constantes que me aterrorizam todos os dias. Um em especial me faz gelar a espinha. Você acha que eu falo sobre ele? Nem falo. Vou falar. Estou me educando para isso, nem que seja preciso recorrer a um "profissional da conversa", vulgo psicólogo.


Será que tem alguém aí disposto a me entender?



 



“Aquilo que não vira palavra, vira sintoma!”

Sigmund Freud