12 de abril de 2011

Espelho, espelho meu!



Acreditar num conto de fadas parece ser a solução mais simples para a grande maioria dos nossos problemas. Perguntar a um espelho se o seu lado mais belo é o que está sendo refletido, se a sua espinha na testa não está aparecendo, se aquele joanete está bem escondidinho na sua bota nova de couro de vaca dos montes alpinos e por aí vai. Esperar a resposta do espelho com os dedos cruzados, torcendo para que ele não veja aquela sujeirinha que você jogou debaixo do tapete da sala. Nos limitamos a querer que nossas pavonices sejam muito bem disfarçadas pelo nosso rímel a prova d'água. Queremos, prevemos, adiantamos o futuro maltratando a nossa essência. Invejamos, queremos mais, somos mais confiantes no sucesso do que no trabalho que nos leva até ele. Invejamos, queremos menos, somos mais revoltados com tudo o que temos a fazer para conseguir aquilo que almejamos.


Ferozes, lutamos contra o nosso eu-interior e nossa condição de vida. Insanos, tememos que a vida não nos abra os braços acolhedores de uma manhã de outono. Ansiosos, desejamos uma vida de luxos e ouro. Riqueza de espírito não buscamos. Não travamos nenhuma luta contra essa vontadezinha indecente de não querer acreditar em nada ou ninguém. Ostentamos uma linda cauda, cheia de penas coloridas e uma linda coroa de penas no topo da cabeça e nos esquecemos de cuidar de tudo aquilo que ficou esquecido enquanto você pensava em vestidos, roupas, sapatos, perfumes e futilidades deliciosamente pecaminosas. Instigamos nossa libido até o nível máximo. Excitamos. Somos excitados. Alcançamos objetivos que foram traçados desde o início dos tempos. Uma cruz, uma profecia. Predestinados, lutamos irracionalmente para encher de orgulho àqueles que nos deram a missão. Não tenho missão. Me recuso a ser o fruto de sua projeção. Não espere de mim meias verdades, baby! Você não as terá. De mim, espere o mais doce veneno. Aquele que te acorda e que adormece. O veneno que te cura desse mal. Minhas penas coloridas são frutos do meu amor, da minha esperança, da minha luta em prol da minha própria vida, minha história escrita por uma linda caneta que ganhei do universo. Quem é você para dizer quem eu devo ser nesse mundo?


Nesse mundo, no meu mundo, eu vou ser herói. Vou desafiar dragões e vencer as barreiras. Lutarei contra crocodilos gigantes e contra piratas em pernas de pau. No meu mundo, no seu mundo também, nele eu farei história, contarei histórias, deixarei histórias lindas a serem contadas aos mais bravos guerreiros. Meus cavaleiros? Não os tenho, infelizmente. Sou um rei pobre de exército. Acredito que todos, bem no fundo, somos pobres de exército. No fim das contas, é sempre eu comigo mesmo e muitas batalhas e muitas derrotas e muitas vitórias e o melhor, as muitas alegrias. Não sou parte do seu projeto desenvolvimentista. Não quero olhar no seu espelho e fazer a estúpida pergunta que vem sendo repetida a séculos. Eu sei exatamente o que há de mais bonito em mim. Eu sei o que eu tenho de mais bonito e não quero saber se o que tenho é o melhor que existe no universo. O que tenho está aqui, pronto para ser colhido. Foi cultivado com amor, com carinho, respeito e algumas gotas de maldade. Afinal, quem não tem algumas gotas de maldade dentro de um frasco bonitinho que fica escondido dentro daquele armário velho? É pouco, mas existe. Não podemos mentir. Não podemos mentir porque precisamos disso. Serpentes (preciso escrever para o meu amigo Príncipe em breve) existem em todos os paraísos. Cabe a você escolher o seu caminho.


Espelho, espelho meu, existe alguém mais fútil do que você? Bem, espelhos nunca vão refletir nada diferente do que está à sua frente. Não espere que ele diga o que você mais quer ouvir. A resposta para todas as suas perguntas estão num lugar onde você, que vive grudado num espelho, ainda não conseguiu chegar - o coração. É lá que você poderá encontrar a resposta e a solução para os seus problemas. Espelho, espelho meu, onde será que escondi o meu coração? É tanta bagunça aqui dentro que não estou conseguindo encontrá-lo. Me ajude, Sr. Espelho! Faça de mim uma diva soberana entre os mortais. Torne-me imaculadamente angelical. Cubra-me com seu reflexo divino. No meu mundo, espelhos só refletem. No meu mundo, eles não disseminam a discórdia pessoal que cada indivíduo cultiva sobre si mesmo. No meu mundo eu sou rei. Um rei pobre de exército e sem coroa, mas ainda assim, um rei.

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