18 de junho de 2011

Avessos











“Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, 
eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando,
eu vou e continuo indo, assim, desse jeito. 
Sem virar páginas, sem colocar pontos e vou dando muito de mim, 
e aceitando o pouquinho que os outros têm pra me dar.” 
Caio Fernando Abreu



Ah meus bons conto de fadas! Plagiando aquela velha senhora travestchy dazoropa tento escapar dessas filosofias tortas de fundo de padaria da esquina. Tem gente que ainda acredita (e muito) que a vida resolver-se-á quando um príncipe lindo e reluzente der um chega pra lá naquele dragão baforento. Que coisa bem estranha essa nossa mania de fazer da vida um eterno conto de fadas, né? Será que eu acordei meio rígido demais hoje? Acho que não. Tem muitos dias em que eu me pergunto por que essas pessoas insistem em acreditar em um conto de fadas? Por que essas pessoas acreditam que um dia eu vou ser aquilo que elas esperam de mim? Enfim. "Como assim?", me pergunto perplexo diante dessas pessoas que querem cuidar da minha vida, mas não querem pagar a conta da minha amada loja de queijos e vinhos.


Que tipo de gente é essa que, em pleno século XXI, acredita que vai viver dentro de um padrão completamente arcaico e ultrapassado. Oh, please, keep away from me! Me deixa de fora desse Clube do Bolinha, porque eu já passei da idade e do peso pra brincar de Power Rangers com vocês, ok?! Acho que o único objetivo que pessoas desse tipo têm na vida é atazanar a existência das outras que, se não fossem os parâmetros pré-estabelecidos, seria extremamente felizes e completas. Vivemos numa democracia falsa, onde tudo é proibido para quem é diferente da receita tradicional do bolo da vovó. Estamos fadados a decepções aristocráticas o tempo todo e fazemos disso um legado de dor e constrangimento. A pressão é tamanha que eu sinto que vou explodir algumas vezes. Será que essas pessoas, com essas normas e leis falidas e preconceituosas, fazem muita gente de bem sofrer como um cão? Será que é esse o propósito desse mundo? É fazer sofrer?


Ninguém percebe o tamanho do estrago e, muitas vezes, de posse de uma hipocrisia deslavada, diz que sabe exatamente como você se sente. Me desculpem, caros leitores, mas sabem o cacete! Essas pessoas não sabem nem metade do que se passa na vida, na cabeça, no coração, na alma dessas pessoas que são extremamente maltratadas e judiadas a vida toda pelo simples fato de ser diferente. Qual o problema desse povo que julga como se fosse Deus? Deus não é amor? Que suposições falsas são essas? O que essa gente quer de mim? Que eu seja infeliz? Sorry, honey, mas eu vou ser feliz sim! Eu posso, mereço e quero ser feliz! E essa sim é uma decisão que podemos e devemos tomar todos os dias quando amanhecemos. O amanhecer em mim não pode ser trágico sendo eu tão saudável e cheio de força de vida. É vida pulsando por toda a parte. É vida saltitando por eu poder ser exatamente aquilo que eu preciso ser no mundo - uma mudança viva e constante, um ser completamente ativo nesse panorama.


Eles chegam, te devoram com suas condições pseudonormativas, fazem de você uma ameba, promovem uma lavagem cerebral e, aí sim, soltam você nessa selva ridícula de gente estranha que só pensa em se promover e se mostrar mais poderoso que eles próprios. Querem fazer de você uma máquina programada, um poderoso chefão que não manda nem no próprio nariz. Não, esse não sou eu. Esse não serei eu. O verdadeiro eu que habita em mim precisa de muito mais para continuar vivo. Ele precisa de você, de você e de você também. Esse meu eu é sedento de saber, de conhecer, de experimentar. Ele precisa de muito mais que seu arroz-com-feijão pra ser feliz. Essa lavagem cerebral é completamente reversível, basta você querer. Porque é sempre assim - a vida chega, te vira do avesso e aí você acaba descobrindo que o avesso é o seu lado certo.





Um comentário:

  1. Sou eu ali naquela frase do Caio. "(...) vou dando muito de mim,
    e aceitando o pouquinho que os outros têm pra me dar.” E como dói aceitar o pouquinho que nos é oferecido, sabendo que merecemos muito mais. =/

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