11 de outubro de 2010

Minhas cartas ao Pequeno Príncipe: sobre raposas




Terra, 11 de outubro de 2010.



Amiguinho,
faz muito tempo que não nos falamos, né? As coisas por aqui andam bem corridas e parece que você pode me dizer o mesmo daí. Como vão as modas aí no B612Planet? Aqui elas andam meio estranhas. Muito baobá e pouca flor, se é que você sacou o meu simbolismo. Você sempre entende os meus simbolismos. Até porque você é mestre nisso.


Quem sempre pergunta de você é aquela piriguete que você pegou naquele barzinho chulé numa entediada noite de sábado. Corre boatos que, desde então, a puta se regenerou, mudou de vida e está a sua espera. Outro dia ela me perguntou se eu tinha alguma novidade sobre a sua volta, mas eu nem dei muita confiança. Não fui com a cara dela no início e continuo com a mesma opinião. Enfim, o motivo pelo qual estou te escrevendo é outro.


Lembra daquela raposa que você tanto adora e que ficava te enchendo com aqueles papos "cativantes"? Pois bem, passei por ela esses dias. Foi outra que  quando me reconheceu me parou e ficou me alugando por um bom tempo. Queria saber de você, como estava a sua vida, se você já estava criando galinhas no seu planeta, se já tinha enriquecido o bastante para poder largar tudo e fazer um tour pela Europa com ela e mais um punhado de baboseiras que eu nem me dei ao trabalho de ouvir. Ela continua a mesma falsa e dissimulada de sempre. Só você que não percebe isso. Você diz que ela te ensinou um monte de coisas boas e blá blá blá. Pelo que você me contou e pelo que pude perceber, ela é uma grande chantagista, isso sim!


Príncipe, você é meu amigo de infância e sabe que eu não minto para você.  É por isso que estou te escrevendo: para alertá-lo. Vê se não fica dando corda pra essa raposa. Ela se faz de boazinha, de fofa e meiga, mas é uma cobra venenosa. E de cobra nós já estamos cheios, né? Quando eu a vi na rua ela nem me deu bola, me olhou por cima dos ombros e bateu a cauda em sinal de despeito. Mas rapidinho ela se lembrou da minha cara de tô-nem-aí-pra-ela e logo veio puxar assunto. Lembra que eu te contei que quando eu a conheci ela ficou toda insinuante, me dizendo que não podia conversar comigo porque eu não a tinha cativado e que isso leva tempo e mais um monte de coisas melosas? Então, ela não mudou em nada. Passou a mão no meu cabelo e disse que se lembraria do trigo, igualzinho fez com você. E eu, irônico, logo tratei de corrigi-la mostrando que não sou loiro e que a cor do meu cabelo é castanho-claro, ou seja, não lembra trigo. Lembra que ela te disse: "Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo"? Pois então, como é que os meus cabelos podem fazê-la se lembrar do trigo? O trigo não faz aquela peçonhenta se lembrar dos seus cabelos? Como assim, raposa?


Respondi que, se nós dois nos cativássemos, um teria a necessidade do outro e ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi aí que eu percebi que ela tava era atrás de marido. A bobinha pensou que tivesse chance comigo. Ela viu minha calça de marca que eu comprei em doze prestações e logo ficou ouriçada querendo me seduzir com seu lindo casaco de pele. E eu resolvi dar bola pra ver até onde ela poderia chegar. Para sua surpresa, meu caro amigo Príncipe, a danada marcou um encontro comigo às quatro da tarde e disse pra eu não me atrasar, pois ela ficaria triste e não seria feliz se eu me atrasasse. Pensei que fosse apenas uma média para me deixar todo derretido, mas não era.


Me atrasei um pouco e quando cheguei ela já estava louca e descabelada no meio do trigal. Fiquei bege com tamanha falta do que fazer. "Você já viu o trânsito desse lugar, gata?", perguntei a ela. Aí ela disse que "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…" Tá, e eu fingi que acreditei nesse papo furado, né! Como assim ela precisa preparar o coração? Quem ama pode chegar a hora que quiser. Corações e portas estarão sempre ansiosos pela chegada do ser amado. O importante é que ele chegue bem. Se não chegar, que pelo menos avise. Mas não, a louca da sua amiga raposa, devia era estar querendo ganhar tempo para despachar o Ricardão. Comigo não, violão! 


Aí ela me disse que era para eu dar uma volta e esfriar a cabeça. Disse que eu estava estressado e que precisava relaxar, ver as rosas e perceber como as coisas cativadas estão intimamente ligadas à felicidade. Dei uma volta para não arranjar confusão com aquela cobra e voltei. Quando voltei ela já estava toda faceira, retocou o batom e tomou um banho de perfume vagabundo. Fui logo me despedindo, porque eu não estava com paciência para aquele tipo de conversa. Foi quando ela me disse adeus e completou: "Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Sentiu a pressão? Percebeu o tom de chantagem?


Afirmando isso ela jogava na minha cara tudo o que fez por mim (se é que ela realmente fez alguma coisa). Até o tempo que perdeu comigo ela me cobra. Ela deseja afeto, carinho e cuidado em troca do precioso tempo que ela nos dedica. Abre o olho, Príncipe! Essa vadia estava era querendo nos enganar. Você está bem longe, sorte a sua. E eu quero é distância dessa cobra que exige compromissos com hora marcada, ritos e contratos de troca afetiva. Contratos que beneficiam ela, claro. Ela tem a audácia de dizer que será feliz só pelo fato de saber que você virá. Faça-me o favor, né amiguinho? Onde é que já se viu condicionar a sua felicidade ao outro, ao que ele pode fazer por você, ao que ele representa, ao fato de ele vir ou não ficar com você?


Veja que coisa mais infantil: atrelar a sua vida à vida do outro. Se tu és único no mundo, como pode ela querer que você seja responsável por ela? Ela também não é única? Viu só como ela cai em contradição o tempo todo, Príncipe? As crianças, como você, não têm ainda um universo, uma vida, um baú cheio de riquezas que você amealhou durante toda a vida. Elas são manipuláveis e facilmente levadas. E é por isso que estou te escrevendo: te quero bem. Não deixa essa peçonhenta te manipular. Quando você crescer, conseguirá enxergar a beleza dos campos de trigo sem se lembrar de ninguém. O essencial é invisível aos olhos e a raposa, como uma criança mimada, quer que aqueles que a amam estejam com ela nas horas e locais que ela determinar, achando que eles são responsáveis pela felicidade dela e que você deve a ela o fato de tê-la cativado. Já pensou como essa raposa ficaria quando você precisasse tirar umas férias para ir conhecer outros lugares? Já pensou com ela ficaria revoltada se você fizesse amizade com alguma outra raposa? Não quero nem imaginar.


Enfim, desde esse dia não falo mais com ela. E acho que você deveria dar um basta nessa pseudo-amizade de vocês. Ela não é flor que se cheire.


Volte quando puder e sem avisar. Haverá sempre pão-de-queijo e um belo sorriso a sua espera.

Fica bem, viu.


Diego Muzitano


2 comentários:

  1. …ardiendo
    otoños
    de pasión.

    TE SIGO :


    Con todo
    mi corazón
    desde :


    HORAS ROTAS
    Y
    AULA DE PAZ

    prendidas
    ahora
    para compartir
    ya contigo .

    tu
    bello
    blog
    con
    un
    ramillete
    de
    oro
    y
    claveles
    dentro...


    desde mis
    HORAS ROTAS
    Y AULA DE PAZ


    TE SIGO TU BLOG
    DIEGO



    CON saludos de la luna al
    reflejarse en el mar de la
    poesía...


    AFECTUOSAMENTE
    DIEGO

    ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

    José
    Ramón...

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  2. Mira que tal!
    Adorei o comentário internacional!!!
    Muito obrigado José Ramón.

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