16 de novembro de 2010

Lenda urbana







Era uma vez um garoto sensível, educado e trabalhador. Tinha lá seus defeitinhos normais que todo ser humano tem. No mais era pura tranquilidade. Fazia de sua vida um eterno aprendizado e vivia em prol de sua felicidade, não interferindo na dos outros. Esse garoto nasceu assim, colorido, cheio de alegria. Cresceu em meio a insultos e xingamentos de toda classe (ou falta de classe). Passou por poucas e nem tão boas assim. Aprendeu na marra a viver de uma forma um pouco mais apreensiva. Criou uma carapaça tão dura que só o verdadeiro amor e carinho poderia ultrapassar. Era quieto e muitas vezes tímido. Não era de ficar cobiçando ou olhando ou assediando outros garotos. Ah sim, não te contei que esse garoto é gay, né? Pois então, ele é gay. E isso não muda nada do que eu disse aí em cima. Ele é gay, assim como você é hétero. Isso não muda e nem desvaloriza esse garoto. Ele é estudado, se esforça, ganha a vida com o suor de seu rosto delicado e bem cuidado. Seus traços fortes indicam todo o caminho que percorreu. Sua força vem de uma trajetória não tão lindinha quanto um conto de fadas. Sua força vem da experiência que ele tem em sair do fundo do poço, haja vista que muitas vezes ele precisou se recompor, enxugar as lágrimas e alcançar a superfície, cheio de arranhões em seu corpo e em sua alma. Ninguém se preocupou com o que aquele garoto tão especial sentia. Ninguém nunca parou para perguntar se ele precisava de ajudar, se a caminhada estava difícil e árida. Ninguém nunca quis saber o que se passava na vida dele. Agora vem um idiota qualquer (qualquer no sentido mais lixo da palavra) e agride esse garoto de forma tão cruel e desumana? Faça-me o favor, né! Será que ele pensa que só porque o garoto é gay ele necessariamente está a fim dele? Será que esse babaca pensa que só pelo fato dele ser gay implica no constante assédio? Quem disse que ele faz o tipo do garoto? Mas enfim. Fim.




Eu: -Fim.
Ele: -Fim? E os meus direitos? Como assim?
Eu: -Simplesmente FIM, meu caro. Estamos num país onde a dignidade humana é medida pela sua orientação sexual. Gay é menos gente que qualquer heterozinho babaca e medíocre só porque este se enquadra nos padrões sócio-hipócritas. Os carinhas nojentos que te agrediram estão por aí, soltos, livres pra fazer com outro garoto tão especial quanto você alguma atrocidade tão inescrupulosa quanto à que ele cometeu com você. E não adianta você pensar que homofobia só está presente naquele cara que te xinga quando você passa. Homofobia está em toda parte. Não é pra você perder o encanto, meu caro. Mas que isso sirva para você perceber que o mundo não vai ter a mesma elegância que você tem no trato com os outros seres vivos. Essas pessoas tem a alma suja, maltratam animais indefesos, maltrata a mim e a você. Essas pessoas estão em todos os lugares. E não devemos ofender os doentes mentais ou animais peçonhentos. Os doentes mentais costumam ter mais discernimento que pessoas preconceituosas. Os animais peçonhentos foram criados pelo mesmo Deus que criou a mim e a você e a toda essa corja de homofóbicos. Não podemos culpá-los, cada um usa as armas que possui. A verdade, meu amigo, é que os homofóbicos, assim como eu, você, o tio da padaria e a gatinha que roda bolsinha na esquina, são homens comuns, porém muito mais inquietos e insatisfeitos com a própria situação em que se encontram. Quando ele vê que seu semelhante gay esbanja alegria e trejeitos proibidos a ele desde a infância, é mais do que natural que eles não queiram ficar para trás, tomando atitudes repulsivas e calhordas. O que eles querem é enquadrar o gay nos mesmos padrões aos quais foram obrigados a permanecer desde crianças. Hoje, esses idiotas são esses homens quadrados e sem sal. Eles enxergam em você e em mim, meu caro, traços de si próprio, porém não conseguem reconhecer em nós todos esses avanços consideráveis como a espontaneidade de gestos, sensibilidade artística e roupas mais apertadas. Os homofóbicos estão presos a calças largas e cheias de zíper. Acho que isso tem os sufocado bastante.



Um comentário:

  1. Muito obrigado.
    Ameeeei esse post! Sério faz tempo que estava tentando abordar esse assunto, mas nunca conseguia :D
    Gostei bastante do conteudo do blog, tá seguido.

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