1 de julho de 2011

As flores






Eu gosto de gente que fala o que pensa na minha cara. Gente que machuca e não faz ninguém refletir é o que mais há. O bom da vida é o tempo - ele te mostra as verdades que essas pessoas não tem coragem e peito pra dizer na sua cara, bem ali, diante do seu narizinho. Se faz de vítima, se faz de santa por querer. Mas o querer é mal-querer disfarçado. É isso? Cinismo, hipocrisia, preconceito. Você só compreende quando atinge diretamente você!



A gente não faz questão dos espinhos, mas o perfume da flor é sempre indispensável. E tem gente que nasceu só com os espinhos. O perfume? Bem, o perfume é que eles conseguem colher das pessoas verdadeiramente perfumadas que estão ao seu redor. Isso chama-se parasitismo. Você permanece ao lado dos perfumados para tentar absorver um pouco daquelas fragâncias que encantam tanta gente. Uma vez absorvido, esse perfume inebria tanto, tanto, tanto a flor desperfumada que ela passa a acreditar piamente que o tal perfume é realmente exalado por ela. Por favor, dona flor, abre teu olho e perceba que sem perfume não somos nada. Dá uma adubada nesse teu solo, limpa as daninhas, cuida de regar todos os dias e veja se consegue adquirir um perfume próprio. Faz bem, é certo, é honesto com você mesma.



É meu povo, a gente dá umas topadas vida afora. A gente acredita, luta, defende, oferece uma segunda chance, mas o espinho fala mais alto na flor. Ele consegue repelir o que há de bom e ainda consegue fazer com que, soberana, a flor não perceba que de vítima não tem nem o nome. Tem gente que é assim - acredita tanto em si mesmo, que acaba pensando que a bondade e a generosidade fazem parte daquela alma sombria e completamente resguardada de qualquer esforço multilateral de entendimento do outro. Eles fazem disso a verdade deles. Uma verdade tão absoluta que chega a cegá-los e a deixá-los completamente alheios ao que acontece no jardim como um todo. 



Essa flor, com espinhos, sem perfume, sem cor, sem vida própria só faz se fortalecer dentro de um mundo ilusório criado para ser o refúgio nas horas difíceis. Essa flor já teve tudo, mas perdeu. Perdeu e deixou-se perder. Não fez questão alguma de ser flor de novo. Fez da beleza um legado artificial de euforia. Lidou com histeria a todo tipo de novidade. E o encantamento? Onde foi parar o encantamento? O encantamento, meus caros, esse secou há muito tempo. Essa flor, tão iludida e tão solitária, acredita-se linda e radiante. Ela não percebe que o destaque que tem é tão somente o vulto de toda a solidão de sua alma. Ela está sozinha porque quer. Porque é dona do próprio nariz e não precisa entender o mundo em que está inserida. Ela quer falar de amor, de paz, de sentimento, mas de amor (amor mesmo, amor que move o mundo e as pessoas) essa pobrezinha não sabe nada. Bem mais que seduzir, essa flor deveria preocupar-se em cultivar o perfume. Afinal de contas, ela é uma flor e não uma sereia.



Ai flor, vem para o mundo das coisas bonitas. Deixa de lado essa sua pseudo-verdade. Ela só faz mal ao seu brilho e à conquista do seu próprio perfume. O que você, flor soberana do jardim, pensa a meu respeito não mais importa. Na verdade, nada mais importa em relação a você. O que você precisa agora é se estabelecer, conquistar novas flores para sugar o perfume e, se quiser um conselho, corre atrás do seu perfume! Isso só faz a alma da gente crescer... mas crescer verdadeiramente. Frases jogadas ao vento, fotos da sua beleza fabricada e risos populares nas madrugas não fazem de você uma estrela no jardim. Na verdade, a grande maioria das outras flores (as que conseguem compreender seu desespero) sabem que tudo isso não passa de uma farsa. Você criou um nome, um CPF e tem até uma caixa postal para esse seu outro eu. Apesar de tudo, não consigo de forma alguma acreditar nessa sua verdade, nessa sua bondade, nesse seu extra-hiper-mega-senso de alegria e justiça.



Por que você quer ser tão diferente num mundo onde todos são tão iguais? Somos semelhantes, flor. Não seja má como as outras pessoas. Busque esclarecimento. Aprenda sobre as diversas personalidades humanas que te cercam nesse jardim. Veja, todos somos muito iguais, mas as minhas pétalas são bem diferentes das suas. Não quero mais ficar aqui ao seu lado. Não quero ficar tão perto de você. A amizade dura enquanto existe respeito, compreensão, coerência e afinidade. Nós já nos perdemos nesse caminho. Nossos espinhos são em menor ou maior quantidade dependendo do perigo que corremos e do tanto que precisamos nos defender de, dentre outros fatores, flores como você. Toda flor tem espinhos, mas, no seu caso, são os espinhos que têm a flor.



Isso foi só um desabafo desabado alma afora...






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