8 de dezembro de 2010

Minhas cartas ao Pequeno Príncipe: sobre a rosa




Terra, 08 de dezembro de 2011.



Petit, tudo bem com você?
Tempos que a gente não se fala ou se escreve ou se twitta, né? Como vão as coisas aí no B612? Espero que esteja tudo bem.  As coisas aqui na Terra estão como de costume, muita correria, muita fumaça, muita gente gritando coisas que não deviam ser nem ao menos sussurradas. É a escolha deles, né? Fazem o que querem e não se importam com a verdade do universo e toda a energia que nos cerca. Deixa pra lá, porque esse povo não compensa. Outro dia até espancaram um menino na rua com lâmpadas fluorescentes só porque ele é gay. Tem base? Sorte sua que vive no seu planeta e não precisa conviver com animais truculentos como esses que temos aqui. Mas não é por isso que estou te escrevendo.


O que acontece é que eu fiquei com saudade mesmo. Escutei uma música tão bonita e me lembrei de você e de sua rosa. Como ela está? Muita gente não simpatiza com ela, eu sei, mas eu mudei muito a visão que eu tinha dela. Todos falam do orgulho excessivo e da arrogância que sua rosa exalava em seu planeta. Era como se ela fosse a rainha do B612 e você um mero servo daquela tirana senhora. Por esses dias comecei a pensar na relação de vocês dois. Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso, mas é que aprendi muita coisa analisando a sua turbulenta relação com ela. Aprendi algumas coisas que eu sempre quis aprender a respeito do amor e da pessoa amada. Aprendi que devemos olhar bem no fundo dos olhos do amor e perguntar: o que é que te faz feliz?


Bem, não me interprete mal, mas você sabe que igual a sua rosa existem mais de mil, mais de milhões, mais de bilhões e isso todo mundo sempre te disse. Porém não é isso que quero dizer. O que quero dizer é que, dentre essa infinidade de rosas, tu escolhestes uma para amar. É para ela que você vive e eu, sinceramente, não acho que você esteja errado. Nos seus momentos de solidão é ela quem esteve do seu lado. Ela te ouviu e te acolheu num abraço. Quer coisa mais bonita do que alguém para abraçar? Alguém por quem lutar? Alguém por quem voltar pra casa? Quer coisa melhor do que ter alguém? Tem gente que gosta de dançar, de passear, de rodar o mundo. Contudo, eu sou da turma do amor. Assim como você, gosto de ter a minha rosa. Uma rosa bem cuidada, bem regada, numa redoma que a proteja, mas que não a deixe isolada do mundo. Até porque as nossas rosas precisam viver, né? 


É claro que existem fases e mais fases num relacionamento. É fato e todo mundo comentou que foi o orgulho e a arrogância da sua rosa que abalou a paz do seu planeta e te fez viajar pelo espaço, chegando, finalmente, à Terra. Aqui, em nosso planeta, você descobriu o segredo do que é realmente importante na vida. E essa mudança de valores que aconteceu na sua vida não foi acompanhada por todos os que te conheciam. Você passou a enxergar o mundo com outros olhos e isso não era unânime entre os que conviviam com você. Talvez por isso tenha sido tão difícil tomar as decisões que você tomou e seguir firme com elas até o fim. Antigamente, você vivia só e isolado no seu planeta. Graças à sua rosa, você viajou e conheceu outros mundos, aprendeu que a vida existe em diferentes formas, conheceu a raposa e a cobra, conheceu seu amigo aviador e me conheceu, conheceu outras rosas e outros seres tão solitários quanto você um dia foi. 


Como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam, não é mesmo? E como esses julgamentos nos levam à solidão. Nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos. Nos tornamos secos no trato e passamos a enxergar as coisas boas sob uma ótica completamente monetária e hierárquica. Ele não pode namorar com fulano, porque fulano é pobre, é negro, é judeu, é roxo, é azul, é amarelo, é do mesmo sexo, é um preguiçoso, é um sanguessuga e tantos outros adjetivos que os que não enxergam com o coração trazem à tona. Somos bombardeados por um exército hipócrita quando resolvemos assumir um relacionamento. As pessoas querem entender o que se passa dentro da gente. Elas querem controlar uma coisa que nem nós mesmos temos controle - o nosso coração. Você sabe (e compartilha da mesma ideia) que o coração não é apenas um músculo que nos mantém vivo. Ele cuida de toda a parte burocrática do organismo, sim. Distribui sangue, controla a pressão, bate, bombeia, se joga o tempo todo. Mas o fato é que ele precisa ser preenchido com muita coisa boa, muito sentimento bom, muito amor. Sem isso, nem ele sobrevive. 


O que eu quero é que você saiba que eu te apoio e que eu estou aqui para o que você precisar. Sua relação com a sua rosa é coisa que interessa só a vocês dois. E eu, a partir de hoje, respeitarei isso de forma sagrada. Se ela te faz bem e te faz feliz, pra quê que eu vou ficar metendo o bedelho? Você sabe se cuidar e sabe o que é melhor para você. A gente já está bem grandinho pra ficar querendo e pensando que tem que agradar os outros, né? Temos que saber o que se passa dentro da gente e assumir isso como a verdade da nossa vida. Isso vai acalentar a nossa alma e fazer florescer lindos frutos. O menino que ensinou o mundo a amar estava apaixonado e ninguém dava bola pra isso. Todo mundo metia o pau em você e na sua rosa. Mal sabem eles que isso te machucava profundamente. Mal sabem eles que existem feridas que cicatrizam, mas que deixam marcas eternas. Mal sabem eles que você é humano.


Nossa civilização contempla Deus através dos homens. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Respeitava-se Deus no homem. Tanto é que o Filho de Deus se fez homem e morreu entre nós. Esse reflexo de Deus conferia uma dignidade inalienável ao homem. Assim, as relações do homem com Deus serviam de fundamento aos deveres de cada homem consigo próprio ou para com os outros. Isso, meu caro, é o que todos acreditam, mas que poucas vezes colocam em prática. Tem gente que mata sem preocupação, que rouba, que desrespeita o outro. Jesus não nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos? Por que então tantas pessoas, inclusive do alto escalão, não assimilam esse ensinamento tão simples - e, ao mesmo tempo, tão complexo - de uma vez por todas e tornam isso uma constante em suas vidas? Isso é básico: respeito antes de qualquer outra coisa. Só assim o amor consegue se estruturar.


Enfim, que bom que você lutou pela sua rosa e fez dela tão importante. A vida é feita de batalhas e, tanto aqui, quanto aí no seu planeta a gente tem que ser perseverante até conseguir a vitória. Bom falar com você novamente. Vê se me liga. Agora eu tenho um chip da Tim que tem uma promoção incrível. A gente vai falar ilimitado (merchandising completamente gratuito, ok?!) e vai poder fofocar bastante. Que você tenha um Natal lindo, meu amigo. E que seu ano seja realmente novo, em todos os sentidos.



Um forte abraço, do seu amigo terráqueo.



P.S. Aqui embaixo estou postando o vídeo da música que me fez lembrar do Príncipe.




"Os contos de fadas são assim:
Uma manhã, a gente acorda
E diz: 'Era só um conto de fadas...'
E a gente sorri de si mesmo.
Mas, no fundo, não estamos sorrindo.
Sabemos muito bem que os contos
de fadas são a única verdade na vida."

Antoine de Saint-Exupéry

 

5 comentários:

  1. Realmente você está inspirado hoje. Parabéns Diego, post emocionante. Aliás o conjunto todo: imagem + texto + vídeo. Tudo lindo e de uma sensibilidade ímpar.

    Adoooro vir aqui e não canso de dizer isso.
    Beijo no teu coração.


    Ps: Posso pegar um texto teu para postar no meu humilde blog?

    Ps²: Chip da Tim é maraaa. kkkkkk

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  2. Adorei!
    Você tem o dom das palavras...
    Love U

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  3. "Antigamente, você vivia só e isolado no seu planeta. Graças à sua rosa, você viajou e conheceu outros mundos. "

    Interessante sua dialética quase sofista e a forma como desenvolveu o texto, partindo de uma analise do petit prince e da biblia.

    parabens.

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  4. Demorei para ler o texto do pequeno príncipe. Na verdade acho que eu esperava um momento mais oportuno. Obrigada Diego por compartilhar tão belas e sábias palavras que nos inspiram a seguir uma fonte de reflexão...

    Parabéns é pouco.
    Abraço,
    Elaine

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  5. ai ai... seus textos me arrasam amigo. To lembrando das nossas divagações sobre a rosa e o Petit! adorei

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