29 de agosto de 2011

Mera coincidência?





Ahh que alegria!
Tem texto meu no jornal Folha do Povo, aqui de Ubá - MG, nesta edição.
O tema, muito discutido na época da novela, é a homofobia e a forma como a mídia lida (e lidou na época da novela Insensato Coração) com o assunto.

Leia abaixo:






Sinto que estamos caminhando rumo a uma liberdade definitiva em relação aos nossos direitos, valores e, principalmente, nossa própria consciência. Muitos vão discordar, outros vão comentar aqui dizendo o contrário, mas no fundo, bem lá no fundo, somos todos preconceituosos e precisamos (urgentemente) rever tudo isso. O Brasil, um país completamente miscigenado e hipócrita, viveu anos sob a luz de um conservadorismo exacerbado e caótico. Isso está mudando sim e vai mudar muito mais. A nova sociedade que está sendo "filtrada" e "lapidada" pelas nossas mãos tende a uma democracia mais humana e justa. Uma democracia que não vai mais conseguir julgar uma pessoa pela cor da pele, religião, orientação sexual ou qualquer outro artifício que é tão amplamente utilizado nos tempos de hoje.



Na semana passada, o Brasil pôde assistir a uma das cenas mais chocantes e traumatizantes que eu já vi em uma telenovela brasileira. Não se parecia com um filme de terror. Não, não era um filme de terror. Não era ficção. Assistimos a uma cena da realidade brasileira. Um jovem de dezoito anos foi espancado e morto por um grupo de arruaceiros e criminosos, liderados por uma pessoa cheia de ódio e falta de informação. Esse jovem foi morto a pontapés e violentos golpes e socos sem nenhuma piedade, embora tanto ele tenha implorado para que não o machucassem. Ele morreu apenas por estar vivo. Esse foi o motivo desse jovem ter sido tão brutalmente assassinado. Estava vivo e era homossexual. Isso me revoltou de uma forma avassaladora, contudo eu precisava analisar friamente o fato que aconteceu na novela.



Fatos como esses tornaram-se corriqueiros nessa sociedade em evolução. Pessoas despreparadas e cheias de ódio vêm ocupando a vida de cidadãos com o terror e a violência. Há pouco tempo, um pai perdeu a orelha quando foi agredido por estar abraçado ao filho adolescente. Os agressores pensaram que eles fossem um casal. Ok. Agora me respondam: quem são esses projetos de “justiceiros” que inventam leis e têm o direito de “pensar” que alguém é gay e que isso lhes dá o direito de agredir, machucar e aterrorizar o seu semelhante. “Vim te ensinar a ser homem”, afirmou o assassino do rapaz da novela. Isso não existe, minha gente! Que mundo é esse que nós alimentamos todos os dias quando aceitamos ver um jovem ser assassinado na novela e não aceitamos ver uma cena de carinho entre pessoas do mesmo sexo? Que sociedade mesquinha é essa que aceita um assassinato e não aceita um beijo entre um casal de namorados do mesmo sexo? Que hipocrisia é essa num país de tamanha diversidade.




Queimaram um índio certa vez porque “acharam” que fosse um mendigo. Agrediram uma empregada doméstica porque “acharam” que fosse uma prostituta. Deceparam a orelha de um pai e bateram nele e seu filho porque “acharam” que os dois fossem gays. Quer dizer então que se todos esses “achismos” fossem verdade a agressão estaria perdoada? Isso é atitude de um século de pura evolução ou estamos retornando à Idade das Trevas? Os nossos senhores feudais modernos voltarão a ter escravos? Será que dessa vez os escravos serão brancos? Será que serão gays? Ou será que serão todos os que se omitirem perante essa atitude ignorante e repressora? O que será de nós, meu Deus? Ao mesmo tempo que evoluímos, percebemos que ainda estamos muito distantes de todo o apogeu dessa liberdade verdadeira e democrática. Homofobia, meus caros, ainda não é crime. Uma criança que rouba um pão na padaria passa a sua juventude sofrendo maus tratos em instituições de “reabilitação” por ser crime roubar. Não estou dizendo que é certo roubar, mas um babaca que agride um homossexual por simples “achismo” ou ódio escancarado continua agredindo a todos que ele julgar certo porque, acredite ou não, homofobia ainda não é crime. É disso que eles gostam: de criminalizar o banal e fechar os olhos perante crimes que não tem justificativas.




Mera coincidência ou milhares de rapazes e moças são assassinados a todo momento em nosso país? Tomara que o recado dos autores da novela não seja captado apenas pela emissora, mas também pelos telespectadores. Tomara que a morte de Gilvan, o jovem da novela, sirva de alicerce para a construção de uma nova sociedade baseada no respeito e na dignidade humana. O que não é certo é chegarem, te devorarem com suas condições pseudonormativas, fazerem de você uma ameba, promoverem uma lavagem cerebral e, aí sim, soltarem você nessa selva ridícula de gente estranha que só pensa em se promover e se mostrar mais poderoso que eles próprios. Querem fazer de você uma máquina programada, um poderoso chefão que não manda nem no próprio nariz. Não, esse não sou eu. Esse não serei eu. O verdadeiro eu que habita em mim precisa de muito mais para continuar vivo. Ele precisa de você, de você e de você também. Esse meu eu é sedento de saber, de conhecer, de experimentar. Ele precisa de muito mais que seu arroz-com-feijão pra ser feliz. Essa lavagem cerebral é completamente reversível, basta você querer. Porque é sempre assim - a vida chega, te vira do avesso e aí você acaba descobrindo que o avesso é o seu lado certo.




Diego Muzitano é Jornalista, trabalha com Comunicação e Marketing, tem um blog e gosta de acreditar que um dia teremos um mundo onde todos serão respeitados pelos seus valores.


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