2 de agosto de 2011

Sinestesia








Vai chegando a primavera e eu já começo a sentir esse cheirinho agridoce da chuva caindo na terra seca. Acho que essa é uma das melhores sensações despertadas em mim pela natureza. Ela se opõe a essa saudade amarga que sinto dos tempos em que o vento soprava aquele cheiro de mato logo depois que os cavalos pisoteavam a relva. Era uma voz áspera e ríspida intimidando todos os meus sentidos. Isso me paralisava pelo tempo que durasse aquele fenômeno. É nessa hora que uma melodia verde toma conta de todo o meu ser e um deslumbre faz vista grossa à simplicidade de todo esse esplendor. É vida sobrevoando o humano, o visível, o intocável.



Nesses momentos, me sinto acariciado por uma fragância quase espiritual, que vem recheada com as doses mais perfeitas de sedução, charme e elegância. Esse calor cor de aurora, essa visão deliciosa de ser exatamente quem se quer ser naquele momento. Essa liberdade inovadora para o ser humano me inspira de uma forma que eu não consigo explicar. Um sabor macio invade todo o meu ser e eu me sinto na obrigação de retribuir tamanha bênção. A minha vida (que fique esclarecido que estou falando da minha vida) será vivida por mim em todos os momentos. Não adianta você tentar me fazer acreditar nas suas verdades, não adianta você me fazer acreditar em você - eu só vou acreditar naquilo que me der motívos e justificativas suficientes para eu acreditar. Confiança tem um cheirinho doce que se desfaz perante atitudes traiçoeiras. 



Essa imensidão de pessoas que acreditam que possuem uma armadura a prova de tudo tem que passar a acreditar na verdade das pessoas que acreditam que o amor não resiste a tudo. E não resiste mesmo. Eu sou romântico assumido. Adoro chamegos, doces momentos e toda pieguice que possa existir. Ainda assim, sendo eu desse jeito, eu consigo ter lucidez para te dizer o seguinte: "Ei, você, amor não é garantia, ok? Amor não resiste a tudo, ok? O meu amor por você não vai superar os princípios que eu trago dentro do peito, ok? Portanto, meu amor, ande na linha." Essa luminosidade perfumada que criamos em torno do amor, quase como uma aura celestial, nos dá a nítida impressão de que estamos vivendo em outra dimensão, porém com alguns bloqueios. Eu não consigo abandonar meus valores para me jogar nessa dimensão. Eles vão comigo, pois fazem parte de mim, assim como os seus, que vão com você, pois fazem parte de você. Isso é a completude humana. Somos feitos de passados recolhidos dentro de uma caixinha bonitinha e bem guardada.



Nesse mundo de fantasia, onde até o som tem cor de ouro, temos que pisar em ovos para não nos deixar desviar do caminho que nos propomos a seguir. O outro não é brinquedo. Você também não. Respeito é a base de tudo. Carinho e compreensão mútua completam o pacote. Perseverança faz do amor um guerreiro imbatível. Contudo, assim como Aquiles, o amor como chuva caindo na terra já molhada, produz lama e deixa o calcanhar cada vez mais exposto. Como a superfície de uma flor, deixamos o amor à prova quando o colocamos em situações de risco. Perdem-se pétalas, fica a dor e a ausência de partes que a torna bonita. E é aí que todos nós erramos, pois esse ar lilás me enlouquece e me embriaga.



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