18 de março de 2011

Luz, câmera... redação!





 
Hoje vivi uma situação um tanto quanto diferente para mim - fui entrevistado. O tema da entrevista? Este blog que aqui vos fala. Jornalista que sou, não me acostumo com essa situação inversa de ter um gravador voltado para mim. Sou eu quem acostumava (hoje ando meio parado nessa vida de repórter) apontar essa poderosa arma para as outras pessoas. Pois bem, o jovem colega de profissão, ainda bem fresquinho no ramo, me fez algumas perguntas banais que todos nós (não posso me excluir) somos praticamente obrigados a fazer aos nossos entrevistados. É o famoso perfil. A entrevista corria naturalmente bem até que, meu (agora sim eu posso dizer que ele é) inexperiente e desinformado colega de profissão me fez a seguinte pergunta: Como é ser um blogueiro gay? Quais os diferenciais em se escrever crônicas sendo gay? Como você lida com o assédio? (Eu não ouvi isso!) Você não tem vergonha de se assumir num espaço tão público quanto a internet? Ele me fez todas essas perguntas de uma só vez, como quem tirava um fardo das costas e corria em disparado na direção oposta de mim. Espanto-me.


Espanto-me com a capacidade de um profissional da comunicação social, exercendo uma função tão social quanto o próprio nome diz, teve a imprudência de ser tão prematuro e ignorante. Ele morreu no parto? Me perguntei, meio abobado ainda. Enfim, me recompus, retoquei o make e me propus a responder tamanha falta de cultura daquele ser humano (sim, nessa fase da entrevista ele já não é mais considerado meu colega de profissão). Com muita serenidade respondi a ele todas as questões, começando pela primeira, obviamente. Eu me lembrava de todas as perguntas, coisa que eu tenho certeza que ele já havia esquecido.


Pois bem, como é ser um blogueiro gay? Como eu poderia saber os diferenciais, as especificidades em ser um blogueiro gay se eu nunca fui um blogueiro heterossexual ou um blogueiro bissexual ou um blogueiro transexual (tá tão na moda, né Ariadna)? Como eu poderia saber. Escrevo crônicas, contos, (arrisco algumas) poesias, piadas e até bula de remédio se precisar. Escrevo, sobretudo, com o coração. É a minha vida traduzida em letras e palavras e sons e sabores nesse espaço tão bonitinho que eu criei. E o melhor - de graça! Aqui eu escrevo sobre amor, paixão, sexo (porque não?), cotidiano, casualidades, acontecimentos importantes, enfim, eu falo sobre vida. Escrever qualquer coisa, sendo gay ou hétero ou bi e etc, não faz muita diferença. A não ser que eu me dedique a criar um espaço apenas para gays. O que não é o caso! Acho que esse repórter não se relaciona com todo tipo de gente. Eu sempre me dei bem com todas as tribos, falo os vários idiomas que todos eles falam, converso, passeio e me encho de alegria convivendo com todo tipo de gente. E o melhor, com inteligência e discernimento suficientes para saber (e discernir) que o que todos temos de mais singular (e incrivelmente bonito) são as diferenças. São elas que nos fazem ver sentido e razão para tudo o que existe nesse nosso multiverso (thanks, Gaga!).


Como você lida com o assédio? Que assédio, Brasil? HAHAHAHA Adorei essa pergunta dele porque eu pude, sem nenhum pingo de remorso, rir absurdamente da cara dele. Se eu falo de amor e descrevo no perfil do blog que eu sou muito feliz com o meu marido eu não preciso ficar dando trela pra quem quer seja, né?! Faça-me o favor! Next question, please! Sem chance, o jovem aprendiz de feiticeiro me fez uma pergunta tão imbecil inapropriada quanto a anterior. O mais difícil para todo ser humano que nasce desse jeito é se assumir diante do próprio espelho, é parar de negar a essência qeu veio ao mundo junto com ele. Passada essa etapa, o resto é fichinha. Entendo que muitos não tem coragem suficiente para "dar o fora de Nárnia", "ler a carta publicamente" ou, resumidamente, "sair do armário". Não os julgo. Aliás, não julgo ninguém. Se essas pessoas têm tanto medo de se assumir perante a sociedade é pelo fato de que todos nós sofremos uma lavagem cerebral durante o nosso desenvolvimento psicossocial. Os heteronormativos (aqueles que acreditam e tentam impor uma sociedade estritamente heterossexual) injetam altas doses de preconceito, arrogância, ignorância, burrice, imbecilidade, estupidez e uma generosa quantia de agressividade bem direto nas veias de todos os que nascem e crescem junto a eles. Só os fortes conseguem o antídoto. Só os mais poderosos se livram dessa maldição do preconceito imposto, da hipocrisia discarada, da agressividade nociva e da ignorância velada.


Somos todos obrigados a conviver com gente desse tipo - que pensa que o mundo terá a mesma estrutura dos tempos em que se seguiam as normas impostas por alguém, ou por um grupo de pessoas, por puro e simples medo. Medo de lutar, medo de se arriscar, medo de ser colocado mais ainda à margem da sociedade dominante, à mercê de gente sem coração. É óbvio que um dia, toda essa vida reprimida, viria à tona e nasceria para um mundo novo. Amor não tem gênero, não tem cor, não tem raça, não tem nacionalidade. Amor é amor aqui e será amor do outro lado do planeta. Amor vem do fundo da alma de gente boa, gente de verdade. E é desse amor que eu falo nesse blog. É de gente de verdade que eu falo nesse blog. É gente-amor!


A meu ver, repórterzinho, não faz diferença se a minha felicidade está em alguém com uma vagina ou um pênis. Não faz diferença se é negro ou branco ou amarelo ou cor-de-rosa. O importante é ter um sentimento bom no coração, algo que faz pulsar, que bombeia o sangue com mais delicadeza e que explode de emoção em vários momentos. Não faz diferença se você ama Elvis ou Mamonas Assassinas. É o seu amor que conta. Não faz diferença se você ama uma cantora de dentes separados e um talento enorme ou uma explosão de adrenalina pulsante que sonha em parir uma nova raça, sem preconceitos, sem ódio, sem discriminação e sem guerras. Cada um escolhe o seu herói, aquele a quem admirar. As causas da escolha são as mais diversas. Não importa. O que importa é que, humilhados e discriminados, nos agarramos àqueles que nos entendem e lutam pelos nossos direitos. Acho que é por isso (e pra isso) que essas pessoas existem - para fazer o bem a corações aflitos. Muitos vão ler isso e torcer o nariz, achar piegas, achar que eu estou exagerando, mas só quem viveu tudo o que TODOS a maioria dos jovens meninos e meninas diferentes dos demais viveu sabe do que estou falando. Só esses bravos guerreiros sabem o tamanho do estrago que aqueles gritos, aqueles xingamentos, aquelas risadinhas de cantinho de sala provocam no organismo e no psicológico de uma pessoa. No fim, acaba sendo disso que tiramos a força para sair do fundo do poço em que nos atiraram com tamanha crueldade.  Não adianta xingar, gritar, espernear e dar chilique. A bichinha resolveu falar que você não vale o chão que pessoas de bem pisam, ok? E pra você, meu querido, é Dona Bicha!








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