29 de agosto de 2011

Mera coincidência?





Ahh que alegria!
Tem texto meu no jornal Folha do Povo, aqui de Ubá - MG, nesta edição.
O tema, muito discutido na época da novela, é a homofobia e a forma como a mídia lida (e lidou na época da novela Insensato Coração) com o assunto.

Leia abaixo:






Sinto que estamos caminhando rumo a uma liberdade definitiva em relação aos nossos direitos, valores e, principalmente, nossa própria consciência. Muitos vão discordar, outros vão comentar aqui dizendo o contrário, mas no fundo, bem lá no fundo, somos todos preconceituosos e precisamos (urgentemente) rever tudo isso. O Brasil, um país completamente miscigenado e hipócrita, viveu anos sob a luz de um conservadorismo exacerbado e caótico. Isso está mudando sim e vai mudar muito mais. A nova sociedade que está sendo "filtrada" e "lapidada" pelas nossas mãos tende a uma democracia mais humana e justa. Uma democracia que não vai mais conseguir julgar uma pessoa pela cor da pele, religião, orientação sexual ou qualquer outro artifício que é tão amplamente utilizado nos tempos de hoje.



Na semana passada, o Brasil pôde assistir a uma das cenas mais chocantes e traumatizantes que eu já vi em uma telenovela brasileira. Não se parecia com um filme de terror. Não, não era um filme de terror. Não era ficção. Assistimos a uma cena da realidade brasileira. Um jovem de dezoito anos foi espancado e morto por um grupo de arruaceiros e criminosos, liderados por uma pessoa cheia de ódio e falta de informação. Esse jovem foi morto a pontapés e violentos golpes e socos sem nenhuma piedade, embora tanto ele tenha implorado para que não o machucassem. Ele morreu apenas por estar vivo. Esse foi o motivo desse jovem ter sido tão brutalmente assassinado. Estava vivo e era homossexual. Isso me revoltou de uma forma avassaladora, contudo eu precisava analisar friamente o fato que aconteceu na novela.



Fatos como esses tornaram-se corriqueiros nessa sociedade em evolução. Pessoas despreparadas e cheias de ódio vêm ocupando a vida de cidadãos com o terror e a violência. Há pouco tempo, um pai perdeu a orelha quando foi agredido por estar abraçado ao filho adolescente. Os agressores pensaram que eles fossem um casal. Ok. Agora me respondam: quem são esses projetos de “justiceiros” que inventam leis e têm o direito de “pensar” que alguém é gay e que isso lhes dá o direito de agredir, machucar e aterrorizar o seu semelhante. “Vim te ensinar a ser homem”, afirmou o assassino do rapaz da novela. Isso não existe, minha gente! Que mundo é esse que nós alimentamos todos os dias quando aceitamos ver um jovem ser assassinado na novela e não aceitamos ver uma cena de carinho entre pessoas do mesmo sexo? Que sociedade mesquinha é essa que aceita um assassinato e não aceita um beijo entre um casal de namorados do mesmo sexo? Que hipocrisia é essa num país de tamanha diversidade.




Queimaram um índio certa vez porque “acharam” que fosse um mendigo. Agrediram uma empregada doméstica porque “acharam” que fosse uma prostituta. Deceparam a orelha de um pai e bateram nele e seu filho porque “acharam” que os dois fossem gays. Quer dizer então que se todos esses “achismos” fossem verdade a agressão estaria perdoada? Isso é atitude de um século de pura evolução ou estamos retornando à Idade das Trevas? Os nossos senhores feudais modernos voltarão a ter escravos? Será que dessa vez os escravos serão brancos? Será que serão gays? Ou será que serão todos os que se omitirem perante essa atitude ignorante e repressora? O que será de nós, meu Deus? Ao mesmo tempo que evoluímos, percebemos que ainda estamos muito distantes de todo o apogeu dessa liberdade verdadeira e democrática. Homofobia, meus caros, ainda não é crime. Uma criança que rouba um pão na padaria passa a sua juventude sofrendo maus tratos em instituições de “reabilitação” por ser crime roubar. Não estou dizendo que é certo roubar, mas um babaca que agride um homossexual por simples “achismo” ou ódio escancarado continua agredindo a todos que ele julgar certo porque, acredite ou não, homofobia ainda não é crime. É disso que eles gostam: de criminalizar o banal e fechar os olhos perante crimes que não tem justificativas.




Mera coincidência ou milhares de rapazes e moças são assassinados a todo momento em nosso país? Tomara que o recado dos autores da novela não seja captado apenas pela emissora, mas também pelos telespectadores. Tomara que a morte de Gilvan, o jovem da novela, sirva de alicerce para a construção de uma nova sociedade baseada no respeito e na dignidade humana. O que não é certo é chegarem, te devorarem com suas condições pseudonormativas, fazerem de você uma ameba, promoverem uma lavagem cerebral e, aí sim, soltarem você nessa selva ridícula de gente estranha que só pensa em se promover e se mostrar mais poderoso que eles próprios. Querem fazer de você uma máquina programada, um poderoso chefão que não manda nem no próprio nariz. Não, esse não sou eu. Esse não serei eu. O verdadeiro eu que habita em mim precisa de muito mais para continuar vivo. Ele precisa de você, de você e de você também. Esse meu eu é sedento de saber, de conhecer, de experimentar. Ele precisa de muito mais que seu arroz-com-feijão pra ser feliz. Essa lavagem cerebral é completamente reversível, basta você querer. Porque é sempre assim - a vida chega, te vira do avesso e aí você acaba descobrindo que o avesso é o seu lado certo.




Diego Muzitano é Jornalista, trabalha com Comunicação e Marketing, tem um blog e gosta de acreditar que um dia teremos um mundo onde todos serão respeitados pelos seus valores.


19 de agosto de 2011

Coisas que eu deveria saber





"Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça. Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer..."

Caio F.


Sou daqueles que pensa que existem coisas que deveriam vir num prático manual de instalação. Tudo bem detalhadinho, tudo no seu devido lugar. Informações deveriam vir gravadas num disco bem rígido em nosso continente cerebral, com sinapses bem encontradas e, ao mesmo tempo, muito distantes entre si. Acredito nessa beleza que deve ser viver uma vida cheia de liberdade. Liberdade que enche o peito e quase sufoca. Liberdade é estar vivo dentro de si próprio. Você pode estar amando ou não, namorando ou não, casado ou não, enrolado ou não. A liberdade independe disso tudo. Se você procurar o amor que você precisa em outras pessoas, a decepção será um fato constante em sua vida. Somos humanamente incapazes de "ser".



O fato é que você nunca encontrará o que está procurando no amor se você não amar a si mesmo. O amor é uma consequência de tudo aquilo que você amealhou durante todos esses anos. Podemos calcular as horas, a quantidade meias na gaveta, quantas calorias ingerimos num prato de macarronada, mas temos a incapacidade de calcular o tempo que perdemos tentando ser uma coisa diferente do que verdadeiramente somos. A grande piada nisso tudo é que a gente se engana, se machuca, aparece com o rosto e o coração todo arranhado no fim do dia e, mesmo assim, não desistimos de continuar sendo o que não queremos ser. Falar a verdade, ser nu e cru. Ser gente de verdade vivendo num mundo de gente de mentira. Eu sei que é difícil, mas não é impossível. Precisamos vencer as batalhas diárias que enfrentamos contra tudo aquilo que nos puxa para o fundo do poço. O egoísmo, a ganância, a falta de amor ao próximo. A vida sem movimento. Precisamos nos abastecer de sabedoria e informação para seguir em frente. Precisamos seguir sempre em frente.



Somos predestinados a viver uma utopia a cada amanhecer. O comercial da fábrica de maravilhas gordurosamente saborosas, o chocolate que deu certo no mercado, a calcinha que levanta o bumbum e te deixa tipo a Carla Perez quando colocou a busanfa no seguro - tudo isso quer te fazer um pouco mais ignorante e menos preocupado com o que vem pela frente. Enfrentamos desafios e queremos nos entregar nas primeiras dificuldades que aparecem. Somos covardes. Precisamos deixar de ser. Como fazer? Bota pra rodar. Põe a vida pra girar. Deixa o movimento te conduzir como um bom e velho amigo dançarino. Parados não podemos ficar e o caminho certo é aquele que te faz feliz. Piegas? Clichê? Quem te fez acreditar que pieguice e clichê não fazem parte do nosso imaginário? Vasculha tudo o que se perdeu de bom aí e verifica se grande parte não era um bom e velho clichê bem piegas. Aposto que sim.



Velhos amores, mágoas malditas e remodeladas. O perdão deixou de existir para vocês no dia em que decidiram viver num verdadeiro inferno. Amar é não ocupar-se do passado. É apagá-lo com uma borracha. Se não deu pra apagar, arranca a folha, joga fora e vai ser feliz com quem você realmente ama. Conveniências só enchem a barriga, o coração continua naquele mesmo deserto de cores. Vingança é um prato que se come com pedras na garganta. A gente engole junto toda a dor que causamos e isso, meu caro, é triste! Vivemos num mundo sem voltas, porque, mesmo que você volte pra cá em outras vidas, não será a mesma coisa. Será outra vida, outro tudo. Você está aqui para viver o presente, esse presente que você tem que construir. Se você destroi um sentimento, não poderá colar como você fazia com seus brinquedos quebrados. Seus pés estão indo no lugar de suas mãos e não sou eu quem vai deter o rumo dos acontecimentos. Aliás, nem quero. Todo ser humano nasceu com a incrível capacidade de raciocinar e decidir viver o que for melhor para o seu bem-estar. Se você quer deixar a banda passar, ótimo. Não faz diferença pra banda, porque a banda, independente do tempo que você precisa para se colocar de volta no universo, não vai parar para te esperar. A banda vai passar, assim como o rio, o vento, a devastação que os amores que deixamos escapar causam em nosso peito.



Respeito é uma coisa que a gente traz estampado na cara. Tem que ser item principal de fabricação. Tem que ser cheio de aplicativos e coisinhas o tornem cada vez mais ativo e participativo na vida de todo mundo. Não acho certo você chegar, desabar todos os seus dramas em cima de mim, eu ouvir tudo e tentar ajudar, gastar meu tempo analisando a situação e sofrendo junto, pra no fim de tudo você virar e dizer que vai se entupir de café. Respeito? Oi? Enfim, amigo é pra essas coisas, né? Para ouvir e não ser ouvido jamais. Seria mais fácil fazer como todo mundo faz: sorrir, cumprimentar, dizer que ama e nunca precisar passar por nenhuma situação de realmente ajuda. Mas eu não consigo ser assim. Se eu gosto de você, eu estou aqui. Se eu não gosto, você não me tem por perto. É uma matemática bem simples e objetiva.



Com amor não é diferente: você precisa aprender a lidar com ele para se dar bem na história. Entenda-se aqui que "se dar bem na história" quer dizer ser feliz com quem você ama, respeita e quer cuidar para toda vida. Tem dias que o céu fecha e fica tudo meio nublado, tem dia que chove uma chuva bem cheirosa, tem dia que cai aquela tempestade, tem dias que você quer uma piscina para refrescar o sol. É assim, no amor você tem que estar preparado para viver todas as estações, num mesmo dia, todos os dias.



Bom amor pra todo mundo!



A música é velha, a dancinha é brega, mas eu amei quando essa música foi lançada.
Fiquei séculos sem ouvir até que tocou na rádio há duas semanas.
Baixei e, desde então, ela faz parte da minha playlist.
Letra, melodia, tudo lindo!




Westlife - If I Let You Go





17 de agosto de 2011

Tempo, tempo, tempo!








Eu sei que estou em falta com o blog e que já tem muito tempo que não posto nada.

Enfim, ser adulto não é tão legal quanto nos tempos de criança. É muita correria. Falta tempo para fazer o que se gosta de fazer, falta inspiração no meio de tantos papeis e formulários e coisas para resolver.
Mas não se preocupe, vou resolver tudinho e me jogar de novo nos braços desse meu vício que é escrever.

Beijo a todos os queridos que vieram aqui e não desistiram de voltar!
Me esperem. Daqui a pouco tem coisa nova e boa pra vocês aqui.


Diego Muzitano







2 de agosto de 2011

Sinestesia








Vai chegando a primavera e eu já começo a sentir esse cheirinho agridoce da chuva caindo na terra seca. Acho que essa é uma das melhores sensações despertadas em mim pela natureza. Ela se opõe a essa saudade amarga que sinto dos tempos em que o vento soprava aquele cheiro de mato logo depois que os cavalos pisoteavam a relva. Era uma voz áspera e ríspida intimidando todos os meus sentidos. Isso me paralisava pelo tempo que durasse aquele fenômeno. É nessa hora que uma melodia verde toma conta de todo o meu ser e um deslumbre faz vista grossa à simplicidade de todo esse esplendor. É vida sobrevoando o humano, o visível, o intocável.



Nesses momentos, me sinto acariciado por uma fragância quase espiritual, que vem recheada com as doses mais perfeitas de sedução, charme e elegância. Esse calor cor de aurora, essa visão deliciosa de ser exatamente quem se quer ser naquele momento. Essa liberdade inovadora para o ser humano me inspira de uma forma que eu não consigo explicar. Um sabor macio invade todo o meu ser e eu me sinto na obrigação de retribuir tamanha bênção. A minha vida (que fique esclarecido que estou falando da minha vida) será vivida por mim em todos os momentos. Não adianta você tentar me fazer acreditar nas suas verdades, não adianta você me fazer acreditar em você - eu só vou acreditar naquilo que me der motívos e justificativas suficientes para eu acreditar. Confiança tem um cheirinho doce que se desfaz perante atitudes traiçoeiras. 



Essa imensidão de pessoas que acreditam que possuem uma armadura a prova de tudo tem que passar a acreditar na verdade das pessoas que acreditam que o amor não resiste a tudo. E não resiste mesmo. Eu sou romântico assumido. Adoro chamegos, doces momentos e toda pieguice que possa existir. Ainda assim, sendo eu desse jeito, eu consigo ter lucidez para te dizer o seguinte: "Ei, você, amor não é garantia, ok? Amor não resiste a tudo, ok? O meu amor por você não vai superar os princípios que eu trago dentro do peito, ok? Portanto, meu amor, ande na linha." Essa luminosidade perfumada que criamos em torno do amor, quase como uma aura celestial, nos dá a nítida impressão de que estamos vivendo em outra dimensão, porém com alguns bloqueios. Eu não consigo abandonar meus valores para me jogar nessa dimensão. Eles vão comigo, pois fazem parte de mim, assim como os seus, que vão com você, pois fazem parte de você. Isso é a completude humana. Somos feitos de passados recolhidos dentro de uma caixinha bonitinha e bem guardada.



Nesse mundo de fantasia, onde até o som tem cor de ouro, temos que pisar em ovos para não nos deixar desviar do caminho que nos propomos a seguir. O outro não é brinquedo. Você também não. Respeito é a base de tudo. Carinho e compreensão mútua completam o pacote. Perseverança faz do amor um guerreiro imbatível. Contudo, assim como Aquiles, o amor como chuva caindo na terra já molhada, produz lama e deixa o calcanhar cada vez mais exposto. Como a superfície de uma flor, deixamos o amor à prova quando o colocamos em situações de risco. Perdem-se pétalas, fica a dor e a ausência de partes que a torna bonita. E é aí que todos nós erramos, pois esse ar lilás me enlouquece e me embriaga.



Saberes e deveres



  
Eu não sei tudo e nem quero saber. Quem sabe tudo não sente aquele gostinho bom do aprendizado, não tem aquela sensação maravilhosa da descoberta, não sente o prazer em entender determinado processo ou atividade. A gente aprende tanta coisa nessas tantas reviravoltas que as voltas do mundo sempre dá que eu fico até meio atônito com tanta informação. Geralmente, é muita informação pra pouco conteúdo e, como o importante é aprender com tudo, precisamos estar com nossas peneiras bem afiadas para poder separar o joio do trigo na comunicação do dia-a-dia.



Nessa escala de saber e fazer e aprender e escutar e propagar, somos meros aprendizes e sempre seremos. Não sabemos tudo e repito que não me interessa ser o dono de toda a sabedoria do mundo. Eu faço uma coisa muito bem, você faz outra e fulano faz outra totalmente diferente, mas com igual competência. Somos, assim, responsáveis pelo todo. Existem aqueles que são os melhores dos melhores dos melhores do mundo. Esses, como vocês já devem ter notado, tentam abraçar o mundo e acabam perdendo as rédeas da situação e não fazem nada do jeito que tem ser feito.



Até quando tapar o sol com a peneira faz dos nossos erros uma coisa um pouco menor? Errar deveria ser um ato normal, aceitável e que não denegrisse a imagem de ninguém. Porém, persistir no erro é que deveria ser crime inafiançável. Tem gente cabeça dura que leva porrada em cima de porrada e não muda de postura. A cabeça sabe que está tudo errado, mas ele insiste no erro. Errar já é, por si só, um tanto quanto desagradável. Errar várias vezes a mesma coisa é pior ainda.






25 de julho de 2011

E se eu não conseguir voltar?











E se tudo ficar perdido na poeira do tempo? E se tudo o que sempre sonhei estiver indo para o fundo de um poço úmido e escuro? E se eu não conseguir tirar isso tudo de lá? Não sei se tenho forças suficiente para aguentar o mal cheiro disso tudo... não sei se consigo. Aquele velho e bandido aperto no peito, aquela lágrima que fica presa no céu da boca, aquele suspiro triste de quem passou a noite tentando entender o que está errado. É nesse mundo que a gente passa a sobreviver depois das porradas do amor. Ah, o amor! Esse grande canastrão, esse filho de uma puta, esse vício que nos acorrenta.



Se eu pudesse escolher, não amaria de novo a mesma pessoa. Não agora. O amor se fez descrente pra mim nesse momento. Eu conheci o lado negro da moedinha dourada e não gostei do que vi. Eu esperava coerência, discernimento, maturidade. Tudo que encontrei foi um grande lago de m*&#$, um grande poço de vaidades, um grande oceano de falta de respeito por quem tanto se respeitava. Estou em pedaços e não tenho forças para juntar os cacos. A queda foi grande, o impacto abalou as minhas estruturas e eu estou sem vontade de acreditar num futuro melhor.




Pelas costas? Jura? Tinha que ser nessas costas que se colocaram na sua frente tantas vezes pra te defender? Tinha que machucar esse meu já tão picotado coração? Essa navalha que vocês, agressores, usam arde enquanto corta. É uma dor lancinante, é uma dor seca e voraz. Ela passa devastando toda a superfície do coração antes de atingir as principais artérias. E isso doi! Doi muito e doi como nenhuma dor que você já me causou consegue doer. E esse seu silêncio? Você não acha que eu mereço ter os seus ouvidos pregados na minha boca enquanto eu despejo toda a ira que essa sujeirada toda me causou não? Você não acha certo saber se o babaca aqui está vivo ou morto, não? Quantas perguntas pra você, né? Justo você que sempre gostou de ser essa interrogação ambulante. Justo pra quem estou eu perguntando esse monte de desespero meu... triste fico, triste estou.



Eu preciso tentar descobrir quem você é verdadeiramente, porque eu sei exatamente quem sou. E todo mundo sabe quem eu sou. Eu quero conhecer o que existe desse outro lado aí, já que você não ajuda nessa minha volta. Tudo o que eu sempre quis era alguém que me amasse, que se entregasse a mim de corpo e alma (da mesma forma como eu me entrego a cada segundo), que me falasse a verdade na hora certa e não desse valor ao passado que eu não gosto de saber. Não me deixasse saber, não me deixasse encontrar rastros desse seu eu que eu tanto detestaria conhecer exatamente por ser tão diferente de tudo o que eu sempre quis. A mim, resta-me a dor e a dúvida. Essas duas danadinhas que me fazem gotejar sangue por todos os poros. O que eu faço? O que eu devo fazer? Como proceder diante desse inferno? Como arrancar essa dor do meu peito? Como fazer parar? São tantas perguntas e poucas pessoas para me ajudarem a responder. Insensato amor, não faça mais isso comigo. Não comigo. Não com esse cara aqui... ele só faz querer bem e fazer o bem e ser do bem. 



"Amanhã é outro dia, aprendi isso hoje!" Aprendi com o Caio F. e com minha amiga: amanhã, por mais difícil que o hoje esteja sendo pra mim, será outro dia. Espero que isso passe, que a dor se dissipe, que o meu peito volte a sorrir aquele sorriso de primavera ensolarada, porque hoje... hoje ele está escuro, úmido e cheio de morcegos.







11 de julho de 2011

Poço dos desejos











Eu preciso, eu quero, eu necessito. Será? Será mesmo? A gente precisa mesmo de tanta coisa assim? Explicações, justificativas, remorsos, contusões e quedas - tudo isso move um grande exército dentro desse nosso tumultuado coração. A vida, vezenquando, dá uma pisoteada na auto-estima da gente, mas isso é natural. É quase um teste dizendo para você: "ei, você é melhor que isso, levanta aí, vai à luta, se joga". E, depois disso, conta pra mim o que te faz ser assim? Tem jeito? É falta de alguma coisa material, de amor, de carinho. É carência? É pura pirraça? Manha? Ciuminho? O fato é que existem momentos em que essa auto-aceitação é o primeiro passo para deixar para trás velhos costumes e hábitos e seguir em frente. 



Sempre nos preocupamos com o passado, com o que ficou pelo caminho, com o que sobrou. O passado, de forma alguma, não deve ser motivo de vergonha ou desconforto quando, no presente, tudo já está diferente do que era. A mudança faz parte do caminhar e a vida é essa eterna metamorfose. De lagarta, nos transformamos em casulo para poder alcançar a plenitude da borboleta. Assim é a vida, muitas vezes queremos esconder a nossa fase não-tão-bonita-quanto-os-contos-de-fadas pregam por aí e fingir que fomos apenas casulo e borboleta. O aprendizado não deve ser motivo de vergonha, repito.



A gente fica se cobrando soluções, respostas e avaliações positivas sobre a vida, sobre o amor. Os caminhos são sempre os mais cheios de pedras até alcançar o topo da montanha. A vida, esburacada, te joga em muitas armadilhas. O coração, na maioria das vezes, cai em todas as armadilhas. A liberdade é algo que bagunça tanto que a gente acaba preferindo a velha e tradicional casa arrumadinha. Somos preguiçosos e não gostamos da mudança. Mesmo que você não troque de casa, de amor, de amigo, de sapato, a mudança deve ser presença na sua vida. Mudar faz a raiz se fortalecer, os laços ficam mais bem acabados, o pacote fica lindo no fim das contas. E se não ficar? E se der errado? E se... Chega de tanto "e se?". Arricar-se é cada vez mais um tarefa difícil de ser executada. 



Queremos, a todo custo, esquecer e apagar a vida que se viveu. Pedimos aos céus que nossos desejos sejam atendidos. Desejamos jogar uma moedinha antiga num poço dos desejos e ver todos os problemas cotidianos desaparecerem como em um passe de mágica. Ledo engano. Somos fadados à decepção quando tentamos ser o que não podemos, quando julgamos os outros pelo que eles foram, quando não perdoamos e aceitamos as diferenças. Uma relação saudável se faz pelo carinho de ver a pessoa amada dormindo, pelo prazer de buscar um pão na padaria para o café da manhã, pela construção de uma intimidade forte e cheia de empatia. O poço dos desejos só deve ser alcançado quando soubermos o nosso verdadeiro objetivo. Não posso simplesmente querer chegar a qualquer poço dos desejos e fazer qualquer pedido. Tem que ser o meu poço dos desejos e o meu verdadeiro desejo. Tem que ser tudo meu e tudo muito consciente.



Tem gente que passa a vida inteira tentando apagar o passado do companheiro, esquecer, anular. Tudo o que foi vivido (por ambos) preparou o casal para viver o relacionamento que eles têm hoje. As cicatrizes, as marcas, as veias que saltam no pescoço nos momentos de fúria e as belas coisas vividas também são parte importante do passado. Porém, não é o passado que está em andamento, mas sim o presente. Não queira ser a pessoa que ele (ou ela) amou. Queira - e seja - a pessoa que ela ama hoje, a que ela escolheu amar. Não queira ser o amor que não deu certo, motivo pelo qual faz parte do passado. Queira ser o amor certo, o que deu certo. Quando decidir chegar ao seu poço dos desejos, não leve moedinhas ou incertezas. Leve seu objetivo e sua verdade.




5 de julho de 2011

Duas ou três páginas...











Eu me recuso a cultivar o ódio, rancor, raiva, mágoa. Me recuso sempre e me recusarei quantas vezes forem necessárias. Gosto das coisas bonitas, dessa fonte sem serifa, desse formatinho do texto, das paragrafações harmônicas e da minha vida sempre em frente. Quando eu pensei em desistir, o vento quase me derrubou para mostrar que o caminho é reto, sem curvas ou desvios. Os atalhos não devem ser levados tão a sério. São aprendizados de uma infinita história. Ontem eu joguei fora tanta coisa. Eu não quero mais esses velhos erros... eles não cabem mais em mim. Peguei aquele jeans que não me serve mais e doei pra quem tem frio, assim como estou doando aquele abraço que já não serve mais a ninguém.



Estou doando alguns medos e aquela mochila velha que eu carreguei por tanto tempo. Pode pegar se quiser, é tudo seu. Medo só faz bem quando a gente sabe administrar e eu, bem, não sou muito bom em administrar coisas que me fazem sentir medo de ter medo. Não quero, não vou, não posso. Não posso continuar querendo tapar o sol com a peneira e acreditar que todo mundo no mundo consegue ser sincero e verdadeiro comigo. Não posso pensar que você é verdadeiro e sincero comigo. Deixa eu te conhecer melhor, te olhar, te ver realmente. Só assim eu vou saber se posso mesmo confiar em você. Eu tenho um olho bom pra essas coisas.



Peguei aqueles meus defeitos que já estavam empoeirados, organizei e guardei numa caixa preta com bolinhas brancas. Não vou jogar fora, pois posso precisar consultá-los de vez em quando. Eles já me quebraram muitos galhos. Os meus bloquinhos de anotações eu guardei tudo também. Arranquei duas ou três páginas, mas elas nem fazem tanta falta assim. Frustrações, decepções, desencantos e desencontros eu trouxe até aqui só para te mostrar que ninguém vive sem eles. São amigos-íntimos de todo ser humano. Os que já passaram, joguei tudo fora junto com aquele suéter que não entra mais nesse corpinho 2.4 flex. 



Estou esgotado, definitivamente, de guardar tudo o que não me faz bem, me faz feliz. Tudo o que não vale a pena vai para o lixo. Passei a entender melhor as minhas inseguranças e a acreditar que ninguém poderá fazer você feliz. Isso é tarefa sua. As pessoas podem, simplesmente, te proporcionar momentos felizes, mas é você que dará sentido a eles. Nem sempre eu quero ser entendido... não faço questão alguma de mostrar para você o que realmente está acontecendo por trás dessa lágrima indecente que teima em cair. Eu não sou fácil de se decifrar. Digamos que é um grande erro tentar me decifrar sempre. Vai ter vezes que eu não vou querer isso e, principalmente, você não vai querer isso. 



O meu caminho estou escrevendo e é importante ressaltar essa autoria. É meu, meu e meu. Sou eu quem decide quem fica no coração e quem fica pelo caminho. Sou eu quem julga necessário ou desnecessário. Dessa minha vida aqui, cuido eu. Você cuida da sua e faz o que bem entender com ela. Somos diferentes o bastante, capazes o bastante, ferozes o bastante. Independente de qualquer coisa, o importante é seguir em frente. Olhar para trás causa um grande torcicolo para a alma. O pescoço fica paralisado, sabe? Acredito na importância que determinada pessoa teve em um determinado momento da sua vida e isso me basta. Não adianta eu querer estender essa sua estadia no meu coração. É preciso aceitar que tem gente que vai passar. Que passa. Sim, passa e você deve deixar passar sem dor, mágoa ou rancor. A vida ensina o que a gente não trouxe na bagagem e aí a gente guarda tudo com um lindo laço de fita vermelha paixão, porque se apaixonar é sempre preciso. Paixão pela vida, amigos, família.



É aí que você pensa que eu tenho todas as respostas e me pergunta: e agora, o que você irá fazer? Eu te respondo: bem, eu vou ficar aqui. Talvez eu compre um pretinho básico novinho em folha, uma blusa estilo Freddy Krueger, um sapato novo e saia por aí celebrando meus erros, acertos, encontros e desencontros. Talvez eu abra uma garrafa de vinho e brinde a esse ser tão errante e humano que sou. Mas, com certeza, parado eu não vou nunca ficar e nada vai me parar.










1 de julho de 2011

As flores






Eu gosto de gente que fala o que pensa na minha cara. Gente que machuca e não faz ninguém refletir é o que mais há. O bom da vida é o tempo - ele te mostra as verdades que essas pessoas não tem coragem e peito pra dizer na sua cara, bem ali, diante do seu narizinho. Se faz de vítima, se faz de santa por querer. Mas o querer é mal-querer disfarçado. É isso? Cinismo, hipocrisia, preconceito. Você só compreende quando atinge diretamente você!



A gente não faz questão dos espinhos, mas o perfume da flor é sempre indispensável. E tem gente que nasceu só com os espinhos. O perfume? Bem, o perfume é que eles conseguem colher das pessoas verdadeiramente perfumadas que estão ao seu redor. Isso chama-se parasitismo. Você permanece ao lado dos perfumados para tentar absorver um pouco daquelas fragâncias que encantam tanta gente. Uma vez absorvido, esse perfume inebria tanto, tanto, tanto a flor desperfumada que ela passa a acreditar piamente que o tal perfume é realmente exalado por ela. Por favor, dona flor, abre teu olho e perceba que sem perfume não somos nada. Dá uma adubada nesse teu solo, limpa as daninhas, cuida de regar todos os dias e veja se consegue adquirir um perfume próprio. Faz bem, é certo, é honesto com você mesma.



É meu povo, a gente dá umas topadas vida afora. A gente acredita, luta, defende, oferece uma segunda chance, mas o espinho fala mais alto na flor. Ele consegue repelir o que há de bom e ainda consegue fazer com que, soberana, a flor não perceba que de vítima não tem nem o nome. Tem gente que é assim - acredita tanto em si mesmo, que acaba pensando que a bondade e a generosidade fazem parte daquela alma sombria e completamente resguardada de qualquer esforço multilateral de entendimento do outro. Eles fazem disso a verdade deles. Uma verdade tão absoluta que chega a cegá-los e a deixá-los completamente alheios ao que acontece no jardim como um todo. 



Essa flor, com espinhos, sem perfume, sem cor, sem vida própria só faz se fortalecer dentro de um mundo ilusório criado para ser o refúgio nas horas difíceis. Essa flor já teve tudo, mas perdeu. Perdeu e deixou-se perder. Não fez questão alguma de ser flor de novo. Fez da beleza um legado artificial de euforia. Lidou com histeria a todo tipo de novidade. E o encantamento? Onde foi parar o encantamento? O encantamento, meus caros, esse secou há muito tempo. Essa flor, tão iludida e tão solitária, acredita-se linda e radiante. Ela não percebe que o destaque que tem é tão somente o vulto de toda a solidão de sua alma. Ela está sozinha porque quer. Porque é dona do próprio nariz e não precisa entender o mundo em que está inserida. Ela quer falar de amor, de paz, de sentimento, mas de amor (amor mesmo, amor que move o mundo e as pessoas) essa pobrezinha não sabe nada. Bem mais que seduzir, essa flor deveria preocupar-se em cultivar o perfume. Afinal de contas, ela é uma flor e não uma sereia.



Ai flor, vem para o mundo das coisas bonitas. Deixa de lado essa sua pseudo-verdade. Ela só faz mal ao seu brilho e à conquista do seu próprio perfume. O que você, flor soberana do jardim, pensa a meu respeito não mais importa. Na verdade, nada mais importa em relação a você. O que você precisa agora é se estabelecer, conquistar novas flores para sugar o perfume e, se quiser um conselho, corre atrás do seu perfume! Isso só faz a alma da gente crescer... mas crescer verdadeiramente. Frases jogadas ao vento, fotos da sua beleza fabricada e risos populares nas madrugas não fazem de você uma estrela no jardim. Na verdade, a grande maioria das outras flores (as que conseguem compreender seu desespero) sabem que tudo isso não passa de uma farsa. Você criou um nome, um CPF e tem até uma caixa postal para esse seu outro eu. Apesar de tudo, não consigo de forma alguma acreditar nessa sua verdade, nessa sua bondade, nesse seu extra-hiper-mega-senso de alegria e justiça.



Por que você quer ser tão diferente num mundo onde todos são tão iguais? Somos semelhantes, flor. Não seja má como as outras pessoas. Busque esclarecimento. Aprenda sobre as diversas personalidades humanas que te cercam nesse jardim. Veja, todos somos muito iguais, mas as minhas pétalas são bem diferentes das suas. Não quero mais ficar aqui ao seu lado. Não quero ficar tão perto de você. A amizade dura enquanto existe respeito, compreensão, coerência e afinidade. Nós já nos perdemos nesse caminho. Nossos espinhos são em menor ou maior quantidade dependendo do perigo que corremos e do tanto que precisamos nos defender de, dentre outros fatores, flores como você. Toda flor tem espinhos, mas, no seu caso, são os espinhos que têm a flor.



Isso foi só um desabafo desabado alma afora...






28 de junho de 2011












"É sempre assim que acontece - quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer."
  
Não, a frase não é minha.
É daquela que melhor fala de mim - Clarice Lispector.