19 de março de 2010

De repente, eu



“Hoje eu vou encontrar a pessoa mais importante na minha vida”, pensei ao acordar. O dia foi puxado. Repetidas vezes escutando a doce e meiga palavra “urgente”. Poxa, que merda é essa, retruquei. Será que ninguém consegue se organizar e aprender que urgente é o que ele não conseguiu fazer em tempo hábil? Porque só eu tenho que conseguir dar conta de me organizar, fazer o meu serviço e ainda resolver o “urgente” dos outros? Um “Ahhh!” bem grande para todos vocês, viu!

Com isso o dia foi andando. A passos de formiga e sem vontade e lembrando do bom e velho Lulu Santos. A noite já estava no seu momento “dá ou desce” e eu ainda tinha esperança de encontrar a pessoa mais importante na minha vida. Foi aí que eu me dei conta. Acessei o meu email e resolvi enviar um convite-cantada para a pessoa que eu estava precisando encontrar hoje. Fui lá e comecei a escrever. Escrevi mais ou menos assim: “E aí, ta afim de sair comigo agora? Tem um rodízio de massas aqui pertinho de casa e que é uma delícia. O lugar é agradável e vai dar pra gente conversar bastante. Topas? Te pego às 22h, então! Me responde, por favor!” Em menos de um minuto eu recebi a resposta: “-Sim!” Agora vãobora!

Quem era essa pessoa tão importante para mim? Eu! Sim! Eu mesmo. Eu estava, há muito tempo, precisando me encontrar com esse querido e sumido amigo. Ele vinha andando meio distante de mim, meio fora do ar, meio fora das coisas, meio fora de mim. E isso não estava sendo bom. Me vesti sem luxo algum: coloquei uma bermuda jeans, nem troquei a camisa e vesti um agasalho, porque a noite tava um pouco fria. Coloquei um boné na cabeça para não tomar sereno e também para esconder o cabelo e não ter que arrumá-lo. Fui. O caminho até o lugar do encontro foi tenso. Passos largos e rápidos. Ofegante. Cheguei.

Sentei-me numa mesa para quatro pessoas. Acho que era suficiente para o tipo de assunto que eu ia tratar comigo mesmo. Sentei-me. Sentamo-nos. Eu, meu ego e mais um monte de “eus” que conosco viriam se sentar. O papo corria bom. Apesar da distância que vinha nos separando ultimamente, ninguém se conhecia melhor do que todos aqueles Diegos reunidos num mesmo lugar, numa mesma mesa, num ambiente diferente daqueles que vínhamos freqüentando em nosso íntimo. Desmembrei-me em vários, acredito. Todos em conflito. Todos resolvendo-se.

Não é difícil falar consigo mesmo. Basta querer. Basta silêncio e contemplação. Não são necessárias palavras ou exclamações ou hipocrisias e falsidades. É um jogo aberto, limpo, as cartas estavam na mesa. Aquele momento foi único. Inexato o momento em que me encontrei. Na verdade, nem sei se me encontrei por inteiro. Acredito que teremos que nos reunir mais algumas vezes.

De volta para casa, o caminho me mostrou muita coisa também. A rua vazia como o meu coração. As casas apagadas como as pessoas que nelas habitavam. Apagadas como eu próprio estava me apagando. Cachorros latindo e um mendigo deitado embaixo de uma marquise, com um fino cobertor no chão e outro cobrindo seu corpo todo. É incrível como por vezes conseguimos reclamar tanto e de tantas coisas que possuímos. Somos egoístas ao ponto de não enxergarmos tudo o que temos de precioso em nossas vidas e desejamos ardentemente sempre o “mais”, o inédito, o sublime. Nem sabemos o que é isso. Nem saberíamos ser dessa forma.

O que sei é que encontrei um Diego bem diferente do que eu vi o dia todo. Acho que agora ele se sente agradecido pelo lar, pela família, pela cidade, pelo planeta em que vive. Ele agora vai se cuidar. Vai cuidar da alma e das futilidades que querem o afastar do que é bom de verdade. O simples é incrível.


Resquícios de 2008/2009 cheirando a naftalina...




Muitas vezes precisamos limpar velhas coisas, hábitos, gostos, costumes e outros ranços que cultivamos até mesmo sem querer. Precisamos esvaziar o armário para novas roupas chegarem, doar os sapatos para sentir o gosto do novo que virá. Precisamos tomar fôlego de vida e seguir em frente.

Isso serve pra vida toda e pra todo mundo!





Um beijo pra quem torna os meus dias cheios de luz e que me faz feliz quando diz coisas simples!




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