17 de março de 2010

Alto e baixo





Preciso contar pra todo mundo da minha experiência com rodas gigantes. Parques de diversões pra mim nunca foram uma coisa lá muito atraente. Sempre gostei de sentir um friozinho na barriga senão ficava meio sem graça. Minha mãe sempre foi muito cuidadosa (pra não dizer medrosa) e nunca me deixou curtir os brinquedos ‘perigosos’. Por isso os parques não enchiam meus olhos. Enfim, cresci vendo os amiguinhos se esbaldando em montanha russa, kamikazes, aquelas sombrinhas giratórias e etc. Mas o que me deixava mais triste era a danada da roda gigante. Nunca soube explicar o fascínio que ela sempre exerceu na minha vida. Pois bem, eu descobri!

Foi num domingo. Eu batizei de ‘domingo no parque’, só que sem as tragédias da música do Gil. Eu estava visivelmente mais empolgado com aquilo tudo do que as próprias crianças, que tinham idades entre seis e nove anos. Enfim, fomos! De ônibus. Lotado. E que demorou a chegar e a partir. Um velhinho teimava em se esfregar em mim e nem precisava se segurar em lugar algum: estava imobilizado pela massa humana. Que falta meu carro faz... Ele tá pintando nesse momento, mas já vai ficar pronto e lindão.

Chegando ao parque (finalmente) fomos comprar os ingressos e acabamos ganhando duas cortesias. Era o início do sonho. Primeiro resolvemos ir num trem fantasma muito sem graça só porque o nome dele era Thriller e tava todo mundo comovido com a morte do Michael (Jackson). Depois do trem fizemos um agrado para as crianças e esperamos elas andarem numas motinhas chatérrimas e sem graça. Gosto não se discute.

Terminada a sessão chatura partimos para a roda gigante. Vamos? Não vamos? Medo! Angústia. Frio na barriga e espinha arrepiada. Vamos, sim! Já enfrentamos coisas piores. O máximo que pode acontecer é ela ficar parada lá em cima por alguns minutos até os bombeiros chegarem e a gente virar notícia nos jornais locais. E isso nem ia ser tão ruim assim. Fato! A gente até que gosta de aparecer um pouco. Subimos no brinquedo. Era uma roda gigante diferente das tradicionais. As pessoas ficavam de frente para o público e não dentro daquelas caixinhas que parecem gaiolas. Acho que isso deu mais emoção ao brinquedo.

A roda começou a girar. Medo! De novo! Agitação. Mãos suando e a pessoa do lado escorregando pro meu lado, o que entortava a posição da cadeira e praticamente me jogava pra fora do brinquedo. Senti o espaço vago entre o céu e a minha cabeça. Lá do alto eu pensei em muita coisa e ao mesmo tempo não conseguia pensar em nada. Não sei se você me entende, mas foi assim! Acho que lá de cima eu entendi o que seria um universo paralelo. Senti frio e calor, medo e desejo, loucura e excitação. Eu vi o mundo e as pessoas da forma como elas deveriam ser: coletivamente. A vontade de enxergar o mundo de forma mais humana me fez sentir isso. Acredito nas pessoas e não acredito na forma como elas insistem em conduzir as suas vidas. É bem mais simples amar de verdade, se entregar, dizer a verdade com a responsabilidade de quem sabe que cada pessoa é um mundo a desbravar e que merece toda atenção e cuidado.

Acertos e erros. Depois que você está lá em cima percebe a inutilidade de um monte de coisas que você vai acumulando na sua vida. É roupa velha, sapato furado, caderno da quinta série, adesivos que você nunca colou pra poder ter pra sempre e que hoje perderam a cola. Secaram. De que eles vão adiantar agora? De nada! Eles passaram da hora deles! Você os guardou e eles agora não podem mais cumprir a função para a qual foram criados. A beleza que eles poderiam ter oferecido na época certa não pôde cumprir o seu tempo porque você a interrompeu. Você não deixou que a beleza fizesse parte da sua vida naquele momento por medo de perdê-la. E agora? O que sobrou? Você não teve a beleza daquele instante e não tem a beleza agora. A beleza morreu em suas mãos e você não pode fazer mais nada por ela a não se contemplar o fruto do seu egoísmo e apego.

Lá de cima dá pra entender que as coisas são e tem que ser livres para poder cumprir o papel que receberam. É angustiante e corta feito navalha a perda daquilo que você pensa ser seu. Sim! Eu sei que é! E como sei... Contudo eu compreendi que prefiro ter vivido e experimentado a beleza de um momento do que manter uma coisa bela do meu lado e vê-la morrer, secar, perder o seu brilho. Se algo tiver que ficar pra sempre na sua vida será por livre e espontânea vontade. Será por inteiro, completamente, com reserva de cola para que nunca perca a sua essência. Por falar em essência, essa é a palavra-chave da vida. Qual é a sua essência? Você já se perguntou isso? Até então eu também não... Vivia a esmo. Pensava no que eu queria ser, quando, na verdade, eu estava sendo apenas o que os outros esperavam e queriam que eu fosse.

Cansei, saca? Cansei de fazer a linha sou-filho-amigo-companheiro-e-não-erro-nunca. Putz! Eu erro por demais! Eu acerto? Sim. Ninguém vive apenas de erros. Ninguém contempla o nada. Ninguém quer o pior pra si. Ninguém agüenta viver da destruição, por mais humana que ela possa vir a ser. Eu não sou dono da verdade e nem o Sr. Resposta Pra Tudo Na Vida. Na verdade, eu não quero ser isso nunca. Sou errante, errado e eternamente insano. Eu ia dizer incompleto, mas dizem que um dia a gente acha alguém irá nos completar.

Eu nunca imaginei que uma volta numa roda gigante fosse me ensinar tanta coisa. Nunca imaginei mesmo. Aquele sobe e desce, roda, acelera, acalma, assusta, de repente, tudo parado, tudo rodando de novo, frequência, ritmo, descompasso, queda e subida. Não confie mais nos outros do que em você mesmo. Se está feito é porque alguém fez e se alguém fez você pode fazer também. A vida é isso: alto e baixo. E quem somos nós pra querer mudar isso...


Diego Muzitano, 9 de julho de 2009.



Ao som de Howie Day, Collide, eu posso unir dois momentos e selar o que de bom ficou, acreditanto sempre no futuro.


Um beijo pra quem me completa!




Um comentário:

Deu vontade de falar alguma coisa? Então FALE!